Virus podem servir de novos marcadores para diagnosticar e tratar cancro

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Os vírus estudados foram o Epstein-Barr, o do papiloma humano e o da hepatite B, associados respectivamente a linfomas, ao cancro do colo do útero e ao cancro do fígado Hugo Delgado (arquivo)

Uma equipa de cientistas descobriu que o genoma de três vírus oncogénicos sofre alterações críticas durante a progressão de cancro, podendo abrir caminho ao desenvolvimento de novos métodos de prevenção, diagnóstico e tratamento.

Segundo um estudo dirigido por Manel Esteller, do Instituto de Investigação Biomédica Bellvitge (IDIBELL), de Barcelona, publicado no último número da revista Genome Research, as alterações do material genético dos vírus têm como efeito enganar as defesas do organismo. Para Pedro Simas, professor de Microbiologia e director da Unidade de Patogénese Viral no Instituto de Medicina Molecular da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, a descoberta poderá servir para identificar novos marcadores que ajudem os clínicos a diagnosticar e intervir mais precocemente.

"A grande vantagem dos marcadores moleculares é nós termos maneiras de assinalar a progressão e a previsão do desenvolvimento de determinadas doenças" - sublinhou este especialista em herpes vírus, como o Epstein-Barr, e em linfoproliferação. Na sua perspectiva, "não há vírus que sejam directamente oncogénicos, eles são sobretudo agentes agressores". "O que acontece é que, quando o vírus se torna persistente, alguns dos seus genótipos mantêm uma população de células em constante proliferação onde, ao longo de muitos anos, se vão acumular mutações carcinogénicas", explicou. "Basta uma célula dessas acumular mutações que sejam carcinogénicas para se formar um clone que é expandido e que é o cancro", acrescentou.

Pedro Simas considera importante o que os investigadores viram neste estudo por a partir daí se poderem encontrar novos marcadores moleculares que possam dar alguma informação sobre a evolução do cancro. Receia todavia que a notícia leve a uma interpretação exagerada, "por dar a ideia de que estes vírus causam o cancro, sem mais nem menos, e de que se poderá ter métodos para o prevenir". No seu entendimento, não deve ser transmitida ao público a ideia de que com esta descoberta se vai resolver o problema da carcinogénese associada a estas infecções virais, que aliás é raríssima.

Os vírus estudados foram o Epstein-Barr, o do papiloma humano e o da hepatite B, associados respectivamente a linfomas, ao cancro do colo do útero e ao cancro do fígado. O objectivo do estudo era esclarecer porque é que alguns portadores de vírus oncogénicos os eliminam, outros progridem para uma infecção e outros ainda acabam por desenvolver cancro, e ainda ver que modificações no genoma estão implicadas neste processota que se faz do epigenoma de um ser vivo completo, como é um vírus.

Manel Esteller, coordenador do trabalho, assegura que a descoberta das alterações do vírus é também importante para encontrar o epigenoma humano, porque a mesma tecnologia que se utilizou com os vírus - a ultrasequenciação e a bioinformática - pode ser usada para o ser humano.

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