Jaime Isidoro, o pintor- -divulgador que fez a vanguarda no Porto

a Ficou principalmente conhecido como pintor e aguarelista, com uma obra que teve no Porto, nos seus recantos e na silhueta do seu casario, um tema recorrente e a que dedicou mais de mil quadros. Mas não menos importante foi a sua acção de divulgador da arte e dos artistas, numa época, numa cidade e num país em que estes eram vistos como algo menor, e foi para isso que fundou a Galeria Alvarez, em 1954, como depois, em 1978, ajudou a criar a Bienal de Artes de Cerveira.Jaime Isidoro (1924-2009) morreu ontem no Porto, sem ver concretizado "o sonho de fazer um museu com os seus quadros e a sua valiosa colecção de arte (que em 1988 foi mostrada na Casa de Serralves)", disse ao P2 José Rodrigues. Este escultor destaca também em Isidoro ele ter sido "um grande animador" da arte, que, ao mesmo tempo que chamava a atenção para as obras de nomes como Amadeo e Alvarez, "deu a mão" a toda uma geração de jovens artistas, entre os quais se inclui o próprio José Rodrigues, Jorge Pinheiro ou Ângelo de Sousa - "Ele fez a vanguarda no Porto", acrescenta.
Essa faceta de divulgador inconformista num tempo de obscurantismo salazarista é também realçada por António Quadros Ferreira, professor da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP). "Jaime Isidoro é portador de um projecto que compele a uma nítida compreensão histórica do tempo e do espaço próprios das diferentes décadas vividas, desde a remota década de 50, ou 'década de silêncio'", numa cidade, o Porto, que era então um deserto cultural. E cita a criação da Academia Livre de Desenho e Pintura Domingos Alvarez e da galeria com o mesmo nome, ao lado da publicação da Revista de Artes Plásticas, onde tratou de dar a conhecer a arte moderna.
Com estas contribuições, continua António Quadros Ferreira - que está a acabar um livro dedicado a Jaime Isidoro, A Arte Sou Eu, e que deveria ser lançado a 21 de Março, data em que o pintor faria 85 anos -, e em convergência com a actividade da Escola de Belas Artes e do Grupo dos Independentes, que Júlio Resende, Júlio Pomar e outros tinham lançado na década anterior, Isidoro conduz à afirmação da designada Escola do Porto.
Teve também papel de relevo na fundação da Bienal de Cerveira, que durante anos transformou esta pequena vila do Alto Minho na capital das artes no país.
Como pintor, Isidoro era "dotado de uma grande habilidade, que brotava em constantes rompimentos", fosse na aguarela como na pintura a espátula, nota José Rodrigues. A sua obra está representada em várias colecções públicas e privadas em Portugal, e, entre os prémios que recebeu, destacam-se o do SNI (Serviço Nacional de Informação) no 1º Salão de Pintura de Matosinhos (1951), o António Carneiro (1955) e o Henrique Pousão (1956), além das medalhas de mérito atribuídas pelas câmaras de Cerveira (1982), do Porto (1988) e de Gaia (2002).
O funeral realiza-se hoje, às 14h30, da Igreja Nova de Cedofeita para o cemitério de Agramonte, no Porto.

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