"O meu atlas exclusivo"

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A partir de hoje, até 28 de Fevereiro, em Londres, Antony expõe trabalhos artísticos. Disciplinas diferentes, mas as mesmas obsessões. Uma galeria, a Ísis, com natureza em fundo

Não é apenas quando está a conceber canções que a sua relação com a natureza o inquieta. A partir de hoje, até 28 de Fevereiro, na galeria Ísis de Londres, Antony Hegarty terá obras suas em exposição, o que acontece pela primeira vez no Reino Unido.

Tal como no álbum "The Crying Light", na exposição, intitulada "The Creek", a inspiração são paisagens, ou fragmentos, colagens e sobreposições de paisagens, mapeamento de uma relação com a natureza, ou, como ele diz: "o meu atlas exclusivo."

São peças criadas pelo próprio, com a ajuda de cúmplices de longa data como a artista Johanna Constantine ou o fotógrafo Don Félix Cervantes, fotos e composições, representando paisagens difusas, carta de sonhos e estados subliminares.

"Sempre gostei de desenhar, nada de figurativo, traços, linhas, rabiscos, e de combinar isso com outras técnicas, como a fotografi a", afi rma. Na música ou neste tipo de trabalhos tratase de encontrar um espaço de liberdade. "Passamos imenso tempo a inibir-nos de fazer isto ou aquilo, é como se todo o processo de sociabilização fosse na direcção do reprimir, devia ser ao contrário."

Na arte agrada-lhe o facto de não ter que cumprir expectativas, mas também não é propriamente um espaço de descompressão. É mais uma forma de interrogar, e também exercitar, processos criativos.

"A música é talvez mais intuitiva, não me forço tanto a ir por desvios, trata-se mais de encontrar uma certa energia e canalizá-la para o meu corpo."

Na arte, como na música, trata-se de partir de formas reconhecíveis -a estrutura de canção, no caso da música, paisagens naturais, no universo artístico - e adicionar-lhe qualquer coisa de intimamente seu.

Como na música, também na arte compõe auto-retratos, embora prefi ra relativizá-los, porque são mediados pela ligação com elementos exteriores.

A relação com as artes visuais não é uma novidade para quem, desde a década de 90, vive imerso no ambiente criativo de Nova Iorque. Mas o contexto actual parece ser mais propício para quem não tem um percurso legitimado no campo das artes visuais. "Há cada vez mais pessoas de outras áreas a imporse, é cada vez menos um campo exclusivo", afi rma.

Num texto publicado no "The Guardian", em 2007, no contexto de uma retrospectiva londrina do fotógrafo Peter Hujar -é dele a foto de Candy Darling que fi gura na capa de "I Am A Bird Now" -Antony escrevia que as suas fotos mostravam os que estavam à margem a partir de um olhar interior. No fundo, ele próprio, não tem parado de fazer a mesma coisa, tentando atribuir sentido ao que o rodeia.

Às vezes com canções sobre as arestas da alma, agora também com peças de horizontes contemplativos, cruzados por linhas errantes, numa galeria - que representa também David Tibet dos Current 93 -algures em Londres. Com natureza, em fundo.

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