Eu queria que fosse a Tereza a ocupar-se de mim

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"Acabo de ter a notícia de que perdi uma amiga muito querida, casada com um homem a quem eu quero também muito. Devo a ambos muitos favores e, sobretudo, a alegria da amizade.
A Tereza tem sido para mim uma pessoa fundamental. Nestes últimos anos, como editora, tem tomado conta de mim e do meu trabalho de uma maneira única. Não sei como vou continuar sem ela. Eu queria que fosse a Tereza a ocupar-se de mim. Tenho tido a felicidade de ter pessoas como a Maria Alzira Seixo e o Eduardo Lourenço, e por aí fora, que se têm ocupado de mim com uma generosidade, com um calor e com capacidade de compreensão muito grandes. Mas era com a Tereza que eu trabalhava, e isso é muito importante para mim e vai ser muito difícil continuar sem ela. Muito difícil. Muito difícil.
Como editora, ela tinha qualidades únicas, como, aliás, já tinha como crítica literária. A Tereza tinha uma cultura enorme e, além disso, tinha uma qualidade fundamental num editor: um grande editor tem que ser um artista. Ela, infelizmente, foi editora durante pouco tempo. Eu gostaria que ela tivesse sido muito mais, porque o trabalho dela estava a tornar-se cada vez melhor e mais perfeito, era uma mulher com uma noção da coisa literária, com uma noção da arte e das palavras verdadeiramente única. E tinha tudo para, dentro de mais três, quatro anos, ser uma editora ímpar num país onde fazem tanta falta grandes editores. É mais difícil encontrar um grande editor do que um grande escritor e a Tereza já o era e iria continuar a crescer, de certeza.
Isto no que diz respeito à vida profissional. No que diz respeito à pessoa, é uma perda muito grande, porque é uma grande amiga que se vai embora. Uma grande amiga com quem eu pensava que ainda ia ter muitos anos para estar, para estar com o Rui e para continuarmos um trabalho que começámos e que tem sido apaixonante para os dois. Tenho muita pena. A vida é muito injusta. Tenho muita pena também dos meninos e também tenho muita pena de mim."

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