Museu José Malhoa renasce nas Caldas

Após dois anos de trabalhos de renovação, as obras, no valor de 2,5 milhões de euros, mantêm o espírito do projecto original de 1940 e integram o museu no verde do Parque de D. Carlos I

a É um museu agora mais aberto para o exterior, com grandes portadas que deixam entrar a luz natural e um interior mais confortável, com soalho flutuante e aquecimento central. No resto, o Museu José Malhoa, nas Caldas da Rainha, mantém-se quase igual ao edifício inaugurado em 1940, pois o próprio projecto de renovação - da autoria do arquitecto João Santa--Rita - prometia respeitar as características essenciais da primeira construção de raiz em Portugal destinada a espaço museológico.As obras, realizadas no âmbito do Programa Operacional de Cultura, custaram 2,5 milhões de euros e tiveram financiamento comunitário em cerca de metade desse valor. O Museu do Ciclismo, em frente ao Parque de D. Carlos I, nas Caldas da Rainha, serviu de núcleo provisório do Museu José Malhoa durante os dois anos em que duraram os trabalhos.
Há três semanas, o acervo recolheu ao edifício de origem para uma inauguração presidida pela secretária de Estado da Cultura, Paula Santos. "É um novo ciclo na vida do museu que agora se inicia", disse a governante, elogiando a arquitectura.
Esta não só não descaracterizou o edifício construído nos finais dos anos 30, no coração do Parque de D. Carlos I, como o abriu para o exterior através de grandes vidraças que mantêm um diálogo com o verde circundante. "É algo que tem tudo a ver com a sua colecção naturalista", fez notar a directora, Matilde Couto.
Uma outra importante alteração nota-se na secção de cerâmica das Cal-
das, que inclui um conjunto de 60 esculturas de terracota de Rafael Bordalo Pinheiro, que deixou a cave e passou a integrar o piso térreo.
Um das salas do museu é hoje dedicada a um olhar sobre si mesmo, com uma exposição acerca da intervenção de que foi alvo. Nela, o arquitecto Santa-Rita explica que antes o edifício constituía "um espaço encerrado sem relação com o parque e jardim envolvente", devolvendo-se-lhe agora a "sua condição de um pavilhão integrado no parque".
O primeiro museu construído de raiz em Portugal foi concebido pelos arquitectos Paulino Montês e Eugénio Correia e foi inaugurado em 11 de Agosto de 1940 no âmbito das Comemorações Centenárias da Província da Estremadura.
Porém, o museu já existia há seis anos, mas funcionava provisoriamente na Casa dos Barcos, em frente ao lago do Parque de D. Carlos I, à época local de veraneio e recreio de uma aristocracia que frequentava as termas caldenses. Para que não restassem dúvidas de que aquela solução era mesmo provisória, no próprio dia da inauguração foi apresentado o projecto do futuro edifício e lançada a primeira pedra num terreno cedido pelo hospital termal.
Seis anos depois, o acervo era transferido da Casa dos Barcos para o novo edifício. Este, de linhas modernistas, com um percurso linear para os visitantes, seria ampliado em 1950 e em 1957. Mas nos fins do século XX estava, obviamente, a necessitar de obras. Em 1998, Paulo Henriques - à época director do Museu José Malhoa e hoje do Museu do Azulejo - deu início a um processo que, à boa maneira portuguesa, tardaria dez anos em concretizar-se. A requalificação e modernização só seria concluída em 2008, após dois anos de obras que souberam, contudo, preservar um edifício que é um ex libris das Caldas da Rainha.

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