Gravidez tardia: a vigilância é ainda mais importante

Ser mãe cada vez mais tarde é uma realidade. Se, por um lado, pode significar riscos acrescidos, por outro, através de um acompanhamento médico diferenciado e personalizado, é possível otimizar os resultados e ter uma gravidez saudável e bem-sucedida.

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Nelson Garrido/Arquivo

Na sociedade em que vivemos, com o aumento da esperança de vida, com a igualdade dos papéis feminino e masculino, os compromissos são adiados e a vida pessoal é colocada em segundo plano, enquanto se aposta na formação ou na carreira profissional. Neste mundo em que a estabilidade profissional é quase um mito, alcançar a independência financeira, construir uma carreira, conseguir ter uma relação estável é cada vez mais difícil e a maternidade é adiada. Por outro lado, existe planeamento familiar pelo que a mulher é mãe quando quer e não quando acontece.

Falamos de gravidez “tardia” ou “idade materna avançada”, quando a grávida apresenta, à data do parto, idade igual ou superior a 35 anos. Não queremos com isto dizer que a mulher seja “velha”, mas a verdade é que a nível reprodutivo, a mulher apresenta uma característica difícil de contornar e que nos coloca precisamente na pertinência deste tema. Nós, quando nascemos, já nascemos com todos os óvulos células que dão origem a um novo indivíduo se ocorrer a fecundação que vamos ter na vida. Este pressuposto leva-nos a que, quanto mais anos passam, menos óvulos tenhamos (estes são consumidos até à menopausa) e os que temos são obviamente mais “velhos” e perdem qualidade.

Em consequência deste facto, a fertilidade diminui – óvulos em menor número e com menos qualidade – e a taxa de abortamento aumenta (cerca de 10% aos 20 anos, 20% aos 35 anos, 40% aos 40 anos e 85% aos 48 anos), a hipótese de ter gémeos aumenta com o avançar da idade, a qualidade dos óvulos ao diminuir implica também o risco de malformações e alterações dos cromossomas, como a trissomia 21.

Em suma, existe um conjunto de patologias cuja incidência é aumentada nestas grávidas, como por exemplo, diabetes gestacional ou doença hipertensiva. Estas dificuldades podem ser ultrapassadas através de um planeamento da gravidez e um correto acompanhamento pré-natal, assim como assistência especializada no parto num local com recursos diferenciados e acesso, por razões de segurança, a uma Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais.

Se atualmente, na sociedade em que vivemos, por vários motivos, os 40 são os novos 20, a área da Maternidade não é exceção. Ser mãe cada vez mais tarde é uma realidade e através de uma intervenção personalizada, com acompanhamento diferenciado, é possível otimizar os resultados e ter uma gravidez bem-sucedida com mãe e feto saudáveis.

Apesar de poder ser mais difícil e dos possíveis riscos associados, se tiver esse desejo, a mulher deve tentar, devendo pedir orientação a um profissional especializado. Se é verdade que os riscos aumentam com a idade, também é verdade que os avanços da Medicina têm contribuído para que sejam gradualmente mais baixos.

Lembre-se que não há momentos ideais e que a vida deve ser vivida de acordo com os ideais de cada um. Nós, profissionais de saúde, estaremos aqui para por em prática as melhores estratégias para que todo o processo decorra de uma forma tranquila e segura.


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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