O decano dos fotógrafos madeirenses

Viveu toda a vida no estúdio, contíguo à residência, entre cenários, máquinas fotográficas, livros
sobre técnicas fotográficas e mobiliário de atelier.
Morreu na sexta-feira, em Lisboa, aos 95 anos

a Decano dos fotógrafos madeirenses, Jorge Bettencourt Gomes da Silva dedicou-se desde sempre à fotografia, a grande paixão de uma família, iniciada em 1846 pelo seu avô Vicente Gomes da Silva (1827-1906), que em 1853 recebe a mercê de "gravador de Sua Majestade a Imperatriz do Brasil, Duquesa de Bragança", viúva de D. Pedro IV, Rei de Portugal e primeiro Imperador do Brasil e, em 1860, o título de "Photographe de Sa Majesté I'Impératrice d'Autriche", quando fotografa a imperatriz Elizabeth D'Aústria, Sissi, na sua estada na Madeira.Seguindo os passos dos progenitores, Jorge Gomes da Silva, também agraciado pelo Presidente da República, Jorge Sampaio, tomou a direcção da Photografia Vicente em 1960, depois da morte do irmão, Vicente Bettencourt Gomes da Silva. Ambos deram continuidade ao trabalho do pai, Vicente Júnior (1857-1933), que, entre Dezembro de 1886 e Agosto de 1887, realizou as obras de ampliação do antigo atelier - edifício que se mantém até aos nossos dias e constitui um ex-líbris da arquitectura dos ateliês fotográficos do século XIX.
Mesmo depois de o governo regional da Madeira ter adquirido este espaço, em Junho de 1979, para transformá-lo num museu de fotografia, Jorge Gomes da Silva continuou como colaborador do Photographia - Museu "Vicentes". Morreu na sexta-feira, em Lisboa. "Era o grande técnico do retoque da fotografia da Madeira e deu um grande contributo a esta actividade. Além desse talento, tinha a perfeita noção do valor patrimonial do espólio da Photografia Vicente, tudo tendo feito para o tornar num espaço aberto ao público", recorda Helena Araújo, directora do museu inaugurado a 22 de Março de 1982.
Adepto fervoroso do Marítimo, de que era sócio número um, Jorge Gomes da Silva viveu toda a vida no estúdio, contíguo à residência, entre cenários, máquinas fotográficas, livros relativos às técnicas fotográficas e mobiliário de atelier, num ambiente que influenciou o seu filho Vicente Jorge Silva (primeiro director e fundador do PÚBLICO), jornalista apaixonado pelo cinema, e o seu neto, Miguel, repórter fotográfico.
Durante mais de 70 anos manuseou, com especial sensibilidade e delicadeza, grande parte dos 400 mil negativos datáveis entre 1870 e 1978, captados por quatro gerações, e que se encontram registados em 47 livros. Este acervo constitui uma riquíssima fonte histórica das actividades comerciais, de visitantes ilustres que passaram pela Ilha da Madeira e também para o estudo de genealogias de famílias madeirenses. Desde a abertura, a Photographia - Museu "Vicentes" tem vindo a ser enriquecido com aquisições e doações de colecções de fotógrafos profissionais e de amadores, ascendendo o seu arquivo a cerca de 800 mil negativos.
O funeral de Jorge Gomes da Silva realiza-se hoje no Cemitério de São Martinho, no Funchal, cidade onde nasceu a 6 de Outubro de 1913.

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