Memórias com sessenta anos revisitadas no aniversário do Teatro Universitário do Porto

Velhos e novos sócios do TUP reuniram-se na cerimónia de comemoração dos 60 anos da histórica companhia portuense, que reivindica ser a mais antiga na cidade do Porto

Eles ainda se lembram muito bem. Guardam, há décadas, fotografias e velhos programas de espectáculos. Anteontem, deslocaram-se ao Salão Nobre da Reitoria da Universidade do Porto para recordar o passado e comemorar o 60º aniversário do Teatro Universitário do Porto (TUP), companhia que reivindica ser a mais antiga do Porto. Foram largas dezenas de antigos sócios, que se juntaram aos mais novos à volta de um amor comum: o teatro académico. E ainda houve tempo para a apresentação de um pequeno trecho da peça Recuperados, que o TUP vai levar a cena, de 21 a 31 de Janeiro, na Fundação José Rodrigues.Maria Luísa Almeida já não está certa da idade que tem. "Tens 76", ajuda um velho amigo, ali ao lado. Mas Maria Luísa ainda se lembra de muita coisa. Recorda, sem necessitar de auxílio, as inúmeras peças que protagonizou, algumas delas há mais de 50 anos. "Ainda tenho comigo os programas, com dedicatórias de rapazes. Na altura, não diziam banalidades", conta a antiga actriz do TUP. "Eles diziam coisas para nos impressionar, mas não me lembro de ficar muito entusiasmada", acrescenta, segura.
"Ela tinha a melhor voz do teatro em Portugal", garante o tal amigo. E revela: "Um dia, a Amélia Rei Colaço e a Palmira Bastos quiseram raptá-la e levá-la para o Teatro Nacional". Uma revelação até para a própria Maria Luísa, que, assegura, não sabia de nada.

Instalações em mau estadoEntre os antigos sócios e colaboradores do TUP, está também Carlos Fragateiro, até há bem pouco tempo director do Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa. Tal como Maria Luísa, também Carlos Fragateiro guarda bem fresca na memória a intensa experiência vivida no TUP, essencialmente na década de 70'. "Estávamos na vanguarda do teatro em Portugal. Era um teatro radical, que existia numa altura de grande censura", afirma. "Foi um espaço de liberdade e de consciencialização de toda uma geração", resume o encenador portuense, para quem a renovação do teatro português e a emersão do teatro independente passaram muito pelos tempos áureos do TUP. "Conseguiu-se, naquela época, abrir uma corrente de ar de renovação, e está agora na altura de voltar a haver essa renovação", opina.
Segundo o seu presidente, Gonçalo Gregório, o Teatro Universitário do Porto vive hoje muito à custa de subsídios dados pela Fundação Calouste Gulbenkian e de uma "pequena renda mensal" que a UP oferece. Contudo, diz o responsável, o espaço que a Reitoria disponibiliza para os ensaios já não tem condições para ser utilizado. "Estamos em negociações com a Universidade e, segundo julgo, é intenção deles oferecer-nos outro sítio. Mas, até lá, podiam, pelo menos, arranjar o telhado, porque, com o mau tempo, entra água e temos figurinos e outros materiais que estão em risco", sublinha Gonçalo Gregório, sobre as instalações situadas na Travessa de Cedofeita, bem no coração da cidade.
O Teatro Universitário do Porto nasceu a 13 de Dezembro de 1948, fundado por um grupo de estudantes da Universidade do Porto, sob a batuta de um professor da Faculdade de Medicina, de nome Hernâni Monteiro. Ao longo de seis décadas, a companhia - inicialmente designada Teatro Clássico Universitário do Porto - serviu de trampolim a dezenas de actores, encenadores e outros colaboradores, como a actriz e, mais tarde, deputada, Manuela Melo, ou o escultor José Rodrigues, sem esquecer o actor Óscar Branco, o encenador António Pedro e o actor Mário Viegas, entre muitos outros.

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