Ramón Salaverría: Ciberjornalismo era inevitável mas não pode cingir-se aos jornalistas

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Nenhum grupo do mundo conseguiu tirar partido prático da convergência, afirma Salaverría Miguel Madeira

Ramón Salaverría, professor da Faculdade de Comunicação da Universidade de Navarra, especialista espanhol em jornalismo, afirmou hoje, no Porto no I Congresso Internacional de Ciberjornalismo, que a convergência digital dos meios de comunicação social "era inevitável", mas avisou que o processo "não pode, contudo, cingir-se aos jornalistas".

"É indispensável convergir à escala empresarial e tecnológica antes de acontecer uma integração dos profissionais e dos conteúdos", defendeu Ramón Salaverría, professor da Faculdade de Comunicação da Universidade de Navarra, Espanha, e subdirector do departamento de projectos jornalísticos da Universidade de Navarra, Espanha.

Falando na conferência de abertura do I Congresso Internacional de Ciberjornalismo, a decorrer até amanhã no Porto, Ramón Salaverría disse que "a convergência digital não significa só organizar as salas da redacção".

Segundo referiu, há processos de convergência praticamente em todos os grupos de comunicação social do mundo, mas, na prática, não há um resultado de integração em nenhum desses grupos.

Considerando que esta convergência surgiu de "uma moda dos editores, mas não dos jornalistas", Ramón criticou o facto de se notar que "não há uma convergência empresarial, mas parece que ela tem que existir junto dos jornalistas".

Na sua opinião, a Internet aparece como o único suporte capaz de integrar os diferentes conteúdos de todos os meios de comunicação social (rádio, TV e imprensa), sendo que, no futuro, a independência de cada um dos meios terá tendência a perder-se.

Quanto ao jornalista em si, o espanhol defendeu que a este profissional caberá ser abrangente, pluralista.

"No futuro, todos terão que ser repórteres audiovisuais, editores audiovisuais e editores de locução e áudio", disse.

Ramón Salaverría considerou que, futuramente, "o importante deixará de ser o órgão de comunicação em si mas a marca" e passará o "conteúdo a valer mais do que o suporte".

Para que seja atingido o modelo "multimédia" nos órgãos de comunicação social, disse, "será necessário passar de um modelo de subordinação editorial para um modelo de coordenação".

"Passar da improvisação para a planificação", assim como "passar da redundância editorial actual para a complementaridade" são também fundamentais.

O especialista sustentou ainda que, para que tudo isto seja alcançado, as escolas de jornalismo têm de assumir um desafio: "deixar de ensinar destrezas profissionais de acordo com a lógica tradicional dos diferentes órgãos de comunicação social".

"O jornalista tem como missão informar e não apenas escrever e isso deve ser entendido nas escolas", para que o profissional possa estar apto a cumprir o seu trabalho independentemente do suporte para o qual vai trabalhar.

José Azevedo, professor da Universidade do Porto, do curso de Ciências da Comunicação, afirmou à Lusa que este congresso surgiu exactamente na sequência "da grande transformação que o jornalismo está a sofrer em resultado do fenómeno da convergência digital".

"O impacto dos media digitais está a ter um profundo efeito entre a relação dos órgãos de comunicação social e as suas audiências", disse.

Neste congresso, iniciativa do Observatório do Ciberjornalismo (OBCIBER), pretende-se dar algum tipo de resposta aos "desafios que são colocados aos profissionais e às empresas na adaptação a esta nova realidade".

José Azevedo concordou com a ideia que as escolas de jornalismo terão que alterar métodos de ensino para que "os jornalistas, mais do que responder aos diferentes tipos de suporte, têm de ser capaz de fazer coisas diferentes".

Reunir especialistas na área para analisar e debater questões centrais da prática ciberjornalística actual à luz de novas realidades empresariais, profissionais e formacionais é o objectivo central desta iniciativa.

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