Linces nascidos em cativeiro vão ser devolvidos ao habitat natural
O balanço feito sobre a situação da população do felino mais ameaçado do mundo, durante o III Seminário Internacional do Lince Ibérico, que decorreu em Novembro na Universidade de Huelva, realçou o progressivo aumento no número de exemplares na Andaluzia. O salto mais “espectacular” registado verificou-se nos vales dos rios Jándula e Yeguas em plena serra Morena, pouco mais de uma centena de quilómetros a nordeste da cidade de Córdova. Na região andaluza, a população de linces passou de 60 exemplares em 2002 para 150 em 2008, número que inclui 60 crias e 32 fêmeas. Em Doñana, mais a sul na província de Huelva, estão identificados 50 exemplares.
A este total podem somar-se os que foram recentemente localizados na província da Ciudad Real, que contaria, segundo as investigações ali realizadas, com uns 15 exemplares, entre eles três fêmeas reprodutoras.
Os especialistas destacaram, durante o seminário de Huelva, o êxito da reprodução nas zonas consideradas mais promissoras da serra Morena, onde estão identificadas 27 fêmeas adultas e quatro jovens que em 2008 tiveram, no seu conjunto, 61 crias e sobreviveram 55 em liberdade.
No Parque Natural de Doñana, o êxito foi menor, devido a um surto de leucemia que assolou, em 2007, o núcleo de linces ali concentrado em cativeiro, afectando 11 exemplares, dos quais nove morreram. Mesmo assim, foi possível alcançar meia centena de animais em 2008. Ao crescimento e estabilização da população de linces em liberdade somam-se os bons resultados do programa de criação em cativeiro. Nas previsões iniciais esperava-se contar com 35 crias no programa para 2008, mas a realidade superou todas as expectativas, e o seu número subiu para 56.
Programa Life
Observa-se uma elevada taxa de sobrevivência e um alto índice de animais jovens em cativeiro veio colocar na ordem do dia o problema da sua devolução ao meio natural e da necessidade do aumento das áreas a povoar. Os técnicos do programa europeu Life – que concedeu uma verba de 25,9 milhões de euros para a recuperação e conservação do lince ibérico, a decorrer entre 2005 e 2011 – detectaram dois exemplares mortos que transportavam coleiras com radiocontrolo, confirmando-se que a sua morte aconteceu na sequência de lutas com outros linces pela ocupação de território.
O empobrecimento da variabilidade genética nas populações de lince ibérico é uma das maiores ameaças à sobrevivência da espécie, que precisa de um número mínimo de 60 crias para garantir a diversidade genética. Até agora, os cientistas só detectaram a presença de linces em Doñana, serra Morena oriental e Serra Norte de Sevilha, embora só tenham sido encontradas provas de reprodução nas duas primeiras populações. Daí a importância da reprodução em cativeiro.
O desaparecimento progressivo da espécie prende-se com a degradação do seu habitat, provocada sobretudo pela escassez de coelhos – dizimados pela prática da caça –, que constituem a base da sua população, e o atravessamento de estradas, que implica mortes por atropelamentos. Também a ocupação dos seus espaços naturais pela agricultura é outro dos factores que podem ser incluídos nas causas que provocaram o declínio do lince ibérico.