Robert Pattinson não morde... mas podia

Um actor quase desconhecido está a enlouquecer as norte-americanas adolescentes. Interpreta o vampiro de “Crepúsculo”.

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Bella é uma aluna de liceu, Edward é um jovem vampiro. Apaixonam-se e a vida de ambos fica mais perigosa. A história desta paixão entre uma humana e um vampiro com poder de a matar num ápice, e por onde passam ainda lobisomens, é contada por Stephenie Meyer nos quatro volumes da série de livros Luz e Escuridão.

"Em três pontos, estava absolutamente segura. Em primeiro lugar, Edward era um vampiro. Em segundo lugar, uma parte dele - e eu não sabia qual era o poder dessa parte - ansiava pelo meu sangue. Por fim, em terceiro lugar, estava incondicional e irrevogavelmente apaixonada por ele.”

E assim, com esta simplicidade, Stephenie Meyer conseguiu pôr adolescentes de todo o mundo (principalmente raparigas) a devorar página atrás de página. Querem vestir-se como as personagens dos seus livros, ouvir as mesmas músicas e sonham um dia encontrar o “seu” Edward Cullen. Para, como acontece com Isabella Swan (Bella), namorarem, ficarem noivas, casarem, sucumbirem aos prazeres do sexo (tudo feito por esta ordem) e, por fim, atingirem se possível a imortalidade.

A série que começou a ser publicada em 2005 nos EUA já vendeu mais de 25 milhões de exemplares em todo o mundo e os livros estão traduzidos para 37 línguas. O fenómeno de Stephenie Meyer tem sido eternamente comparado ao fenómeno de J.K. Rowling. Entre os livros de Luz e Escuridão e da série Harry Potter há semelhanças. Ambos se destinam a adolescentes mas são também lidos por adultos, ambos se movem no mundo das trevas e há um permanente dilema entre o bem e o mal. Stephenie Meyer tal como J.K. Rowling era totalmente desconhecida nos meios literários antes de se transformar numa máquina de fazer dinheiro.

As personagens criadas pelas escritoras já são reais num ecrã perto de si. “Crepúsculo”, que adapta ao cinema o primeiro volume de Luz e Escuridão, chegou ontem às salas portuguesas com Kristen Stewart (Bella) e Robert Pattinson (Edward) nos papéis principais.

No primeiro fim-de-semana de exibição nos Estados Unidos (estreou a 21 de Novembro) o filme rendeu 70,6 milhões de dólares (cerca de 56 milhões de euros), divulgou a “Variety” e até agora é considerada a sexta-feira mais rentável de sempre. À saída das salas de cinema as sondagens revelaram que 75 por cento da audiência era feminina. O filme, produzido pela Summit Entertainment, é de baixo orçamento (custou cerca de 35 milhões de dólares, cerca de 27 milhões de euros) e em relação a todos os filmes que em anos anteriores estrearam no mês de Novembro, “Crepúsculo” conseguiu ficar em quarto lugar no top de receitas de bilheteira. À sua frente nesta lista só estão três filmes. E quais são? Três filmes de Harry Potter. Tudo isto fez com que os estúdios dessem luz verde para a realização da adaptação ao cinema do segundo livro da série, “Lua Nova”. Aliás, o final do filme “Crepúsculo” já faz antever que haverá ali uma continuação da história.

Qual é o segredo?

"Crepúsculo” é um filme realizado por uma mulher (Catherine Hardwicke), baseado num livro escrito por uma mulher (Stephenie Meyer) e cujo argumento foi escrito por outra mulher (Melissa Rosenberg), que por acaso é argumentista da série de televisão “Dexter”, onde o sangue também tem um papel fundamental. Se acham que o facto de estarem tantas mulheres envolvidas neste projecto não interessa para nada, estão enganados.

Há no filme “qualquer coisa” que atrai as mulheres. De todas as idades. As mais novas têm invadido centros comerciais norte-americanos aos gritos atrás dos actores e as mais velhas, nas duas horas que passam em frente ao ecrã, regressam aos tempos da adolescência e às trepidações do primeiro amor.

Tudo isto por causa de um filme em que não há uma única cena de sexo. Mas onde se transpira tensão sexual do princípio ao fim. Qual é o segredo? O actor Robert Pattinson, que interpreta Edward Cullen, o vampiro.

É tudo por causa de Robert Pattinson. Quem?! Um britânico de 22 anos, que é quase, quase desconhecido. Bem, entrou em dois dos filmes de Harry Potter para interpretar a personagem Cedric Diggory ("Harry Potter e o Cálice de Fogo” e “Harry Potter e a ordem da Fénix"), onde tinha muito menos sex-appeal.

De repente, com “Crepúsculo” tornou- se no “sex symbol” de toda uma geração. “Toda a gente quer pôr as mãos em cima deste rapaz e ninguém se importa que ele morda!”, diz o crítico de cinema da revista “Rolling Stone”, Peter Travis, num vídeo que pode ser visto no “site” da revista norte-americana. O crítico defende que o que se tem passado na América com este actor (completa histeria por todos os sítios onde tem passado para promover o filme) não é habitual e faz lembrar o que se passava nos anos 60 com os Beatles. É como se fosse o seu momento de rock star. Patterson não pode sair à rua.

Travis acha que ele se está a safar bem mas lembra que o actor só tem 22 anos. “Isto pode ser demais para ele”, acrescenta. E a este papel, seguiu-se a participação em “Little Ashes” de Paul Morrison, onde interpreta Salvador Dali. O filme só estreará para o ano.

Quando Travis entrevistou Robert Patterson, antes da estreia de “Crepúsculo”, o actor disse-lhe: “Sabe o que é mais estranho nisto tudo? As raparigas ainda nem sequer viram o filme e já estão a gritar por mim. Elas estão apaixonadas por Edward Cullen, o vampiro. Não é por mim, não tem nada a ver comigo, ainda não viram se represento bem, pensam em mim como tendo saído das páginas deste livro e tivesse entrado nas suas vidas.”

Robert Pattinson disse à “Rolling Stone” que “Crepúsculo” é “uma metáfora das virtudes da castidade” mas tem o efeito contrário. O actor contou que recebeu cartas de fãs onde se lia coisas deste género: “Vou matar-me se não fores comigo ver o ‘High School Musical 2'”. Uma mãe recentemente passou-lhe o bebé que trazia nos braços e pediu-lhe: “Por favor pode morder-lhe a cabeça?” Estranho, muito estranho.

Mórmon e bem comportada

Numa entrevista publicada em Abril passado pela revista “Time”, Stephenie Meyer contou que tudo começou na noite de 1 de Junho de 2003. A escritora que cresceu em Phoenix e vive numa cidade chamada Cave Creek teve um sonho onde viu uma rapariga e um belo rapaz a conversar num prado. Ele, belíssimo, cintilava debaixo dos raios de Sol por não ser humano, é um vampiro. Estava a tentar explicar à rapariga como era difícil para ele não ceder à tentação de a matar. Esta cena aparece depois no primeiro livro da série Luz e Escuridão, “Crepúsculo”, que a autora já confessou ter escrito em três meses.

No total são quatro volumes: “Lua Nova” e “Eclipse” também já estão editados em Portugal pela Gailivro, e “Breaking Dawn” (que em português talvez se venha a chamar “Amanhecer") irá ser publicado em Junho do próximo ano.

Stephenie Meyer é mórmon praticante. Escreve a “Time” que a escritora nunca bebe álcool e “nunca viu um filme classificado para maiores de 18” (R-rated). Formou-se na B r i g h a m Young University, casou aos 21 anos com Christian, que dá pelo nome de Pancho. Têm três filhos.

O último volume de Luz e Escuridão foi publicado no início de Agosto nos Estados Unidos. Depois disso já saiu um outro livro de Stephenie Meyer, “The Host”, um romance de ficção científica destinado a adultos que a Gailivro vai publicar em Março de 2009.

Entretanto ,houve um percalço que não é muito comum na carreira de um escritor. Stephenie Meyer estava a escrever mais um livro relacionado com esta história de vampiros e de lobisomens, “Midnight Sun”. Neste manuscrito Meyer regressava à história de “Crepúsculo”, mas desta vez a história era contada do ponto de vista de Edward.

Mas os primeiros capítulos desse livro foram parar à Internet sem o consentimento da autora, gerou-se uma campanha viral tendo o livro sido rapidamente distribuído. “Nunca quis que os meus leitores lessem ‘Midnight Sun’ antes de estar finalizado, editado e publicado. É importante que toda a gente perceba que o que aconteceu foi uma violação dos meus direitos enquanto autora e como ser humano”, escreve no seu site oficial (http://www.stepheniemeyer. com/).

A escritora explica também que depois disto ter acontecido já não conseguiu voltar a pegar naquela história, o seu péssimo estado de espírito iria influenciar o destino das personagens. Pô-lo de lado. E resolveu disponibilizar uma cópia do texto no seu site. Estão lá 20 páginas em PDF.

Se há uma fórmula no trabalho de Stephenie Meyer, escreve a revista “Time”, é que ela pega em histórias de horror e reescreve-as como se fossem histórias de amor. Tal como em “Crepúsculo”, que é um filme sobre vampiros onde não há muito sangue (Edward é um vampiro bom que se alimenta de animais e tenta evitar os humanos) e é um filme sobre uma paixão perigosa, onde não há sexo.

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