Mamma Mia!: Greatest hits com história

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Não é a primeira vez que um acervo de canções pré-existentes é retrabalhado para um musical. Um dos clássicos absolutos do cinema americano - "Um Americano em Paris" (1945), de Vincente Minnelli - foi construído à volta de composições pré-existentes de George Gershwin, que morrera em 1937. E o recente "Moulin Rouge!" (2000), de Baz Luhrmann, reunia dezenas de êxitos pop da segunda metade do século XX, de Nat King Cole aos Nirvana.

Mas "Mamma Mia!" é uma "ave rara": transporta os "greatest hits" dos Abba praticamente intactos em termos de sonoridade, à excepção de acertos pontuais para adaptar a canção à personagem ("Does Your Mother Know" e "Lay All Your Love on Me" "mudam de sexo") ou leves actualizações de arranjos sem por isso alterar "o som Abba", nem reescrever o passado.

Faz sentido que assim seja num musical onde as canções são verdadeiramente o que interessa: Benny Andersson e Björn Ulvaeus, as "eminências pardas" do grupo (que, depois da dissolução em 1982, escreveram dois musicais...), já se tinham investido na supervisão da produção de palco, e reuniram para o filme a banda de estúdio presente nos discos originais para garantir a fidelidade à fonte.

Depois, bom, depois põem-se os actores a cantar - afinal, a tradição do musical é que os actores sejam capazes de representar, cantar e dançar, mais complicado hoje em dia que o "star system" dos estúdios se desagregou e em que o teatro musical se tornou num "nicho" estanque. Mas como a ideia de "Mamma Mia!" é a de uma festa-karaoke onde não faz mal que não se cante bem, não é problemático que Colin Firth, Pierce Brosnan ou Stellan Skarsgard não sejam exactamente Pavarottis. Até porque a maior parte das canções são entregues às personagens femininas - correspondendo também aí às gravações originais, cantadas maioritariamente por Agnetha Fältskog e Frida Lyngstad - e Meryl Streep e Amanda Seyfried, que fazem o "grosso da despesa", têm óptimas vozes.

O que acaba por surpreender mais em "Mamma Mia!" é o facto de Catherine Johnson e Judy Craymer terem conseguido encontrar um fio condutor que permite a canções criadas isoladamente fazerem sentido enquanto um todo. Nem todos os clássicos estão representados - as letras de "Fernando" ou "One of Us", por exemplo, não se prestavam à estrutura central da peça/filme, sobre uma jovem noiva que procura descobrir qual dos três namorados que a sua mãe teve 20 anos antes é o seu pai. Mas os que estão (e que vão de "Dancing Queen" a "Super Trouper" passando por "Voulez-Vous" ou "The Winner Takes It All") fazem todo o sentido dentro da história que serve de ligação - e só mesmo os resmungões se vão queixar de faltar esta ou aquela canção.

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