Torne-se perito

Português é um dos calcanhares de Aquiles das melhores privadas

Os resultados seriam melhores se o exame desta disciplina contasse para o ingresso em todos os cursos do Superior, defende director dos Salesianos

a Quando o caso é o Português, há escolas particulares com lugar cativo no topo global que não conseguem garantir uma posição entre as 50 primeiras classificadas e, por vezes, nem mesmo entre as primeiras 100, confirmam as listas elaboradas com base nos resultados dos exames nacionais do Secundário. Sem pretensões de ser exaustivo, o PÚBLICO foi espreitar os calcanhares de Aquiles dos campeões. São fraquezas que alguns assumem por conta daquele que é o seu principal objectivo: garantir que os alunos tenham lugar nos cursos superiores mais reputados ou de mais difícil acesso.Nos Salesianos do Estoril não há alunos de Humanidades, onde se alinham os cursos que podem pedir Português como prova de acesso. O esforço dos seus estudantes vai, portanto, para "a Matemática, Física e Química, Biologia e Geologia, ou Geometria Descritiva, pois essas são as disciplinas específicas de ingresso para as Ciências Médicas, as Engenharias, Gestão e Economia", explica por e-mail, ao PÚBLICO, o director pedagógico da escola, padre Taveira da Fonseca: "Funcionalmente, o exame de Português não é importante para os nossos alunos".
O colégio ocupa a 6º posição no ranking geral das escolas, os seus estudantes obtiveram médias superiores a 16 em Matemática e Economia, mas ficaram-se por 11,85 a Português. O que transportou a escola, nesta disciplina, para um 54º lugar. Ganhou, contudo, e pelo segundo ano consecutivo, o prémio para a escola com maior participação no Campeonato Nacional da Língua Portuguesa .
Taveira da Fonseca defende que só poderão registar-se melhorias se a legislação de acesso ao Superior for alterada: "Bom seria que o exame nacional de Português contasse (nem que fosse dez por cento), para a entrada na Faculdade, porque os médicos, os engenheiros e os gestores têm de saber falar e escrever em bom Português. Essa seria uma medida de valorização da nossa língua, e consequentemente, os resultados seriam imediatamente outros. Na nossa escola, como noutras".
Em 2008, e pela primeira vez em 10 anos, a média global nos exames de Português ficou abaixo dos 10 valores. Para Pedro Feytor Pinto, presidente da Associação de Professores de Português, os resultados obtidos por algumas das melhores escolas privadas apenas vieram confirmar o alerta feito pela APP no próprio dia do exame: o enunciado tinha problemas que dificultavam a sua resolução.
Também se desviou dos testes tipo cuja realização inunda os tempos lectivos do Secundário."O exame não estava muito de acordo com aquilo de que se estava à espera", diz Margarida Amador, directora pedagógica do Colégio Sagrado Coração de Maria. Em 22º lugar no ranking geral, este colégio de Lisboa ficou com uma posição bem mais modesta na lista dos resultados a Português. Está no 190º lugar. Classificação obtida no exame: 10,61."Uma média como esta nunca aconteceu", admite a directora.
Margarida Amador sustenta que esta realidade choca com o feito obtido nesta época: "Foi o ano em que colocámos mais estudantes em Medicina". Sete ao todo. Dos cerca de 100 finalistas, só um não entrou na Universidade. "O nosso principal objectivo é ir ao encontro daquilo que os estudantes mais precisam, que é entrar para a faculdade, e não trabalhar para ter bons resultados em todos os rankings", esclarece.
Tombo também a História
O Externato Ribadouro, no Porto, é apontado como sendo a escola que mais estudantes consegue colocar em Medicina, mas tem um problema com a disciplina de História: 10,55 de média no exame. O ano passado foi pior: 6,5. A História sofre do mesmo mal atribuído à avaliação do Português. É acessória para aquilo que "conta", e que foi transformado em objectivo número um da aprendizagem, a entrada na Universidade. "Alguns dos alunos que têm História são jovens que nem sempre têm objectivos muito definidos no que diz respeito à escolha do curso do ensino superior. Isto pode levá-los a uma maior dispersão (desmotivação?) no percurso escolar de ensino secundário", esclarece, por e-mail, a directora pedagógica, Conceição Pinheiro. Nesta tabela, o Ribadouro está em 226º lugar.
"Foi uma situação inesperada, que lamentamos", diz o director-adjunto do Colégio São João de Brito, em Lisboa, António Valente. Este ano o colégio volta a ocupar o segundo lugar no ranking geral das 604 escolas do Secundário, mas na lista que dá conta das classificações a História, tem agora mais de uma centena de escolas à sua frente.
9,7

foi a média global obtida na primeira fase dos exames de Português, a pior em 10 anos de testes nacionais

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