Em 33 países do mundo, passa-se fome todos os dias

Situação está melhor em relação
a 1990, mas ainda se está longe
de conseguir algum êxito digno
de nota, diz relatório internacional

A Esta é daquelas notícias que parecem eternas - todos os dias, quase mil milhões de pessoas acordam e adormecem com fome. Em 33 países, sofrem de inanição com uma enorme violência. Neles, as crianças empenham o seu futuro: devido à falta de proteínas em tenra idade, serão adultos com menor capacidade de trabalho. E o ciclo da pobreza perdurará.O Índice Global da Fome de 2008, da responsabilidade de três organizações não governamentais (International Food Policy Resarch Institute, Welthungerhilfe e Concern Worldwide), dá conta de que o Congo, a Eritreia, o Burundi, a Nigéria, a Serra Leoa, a Libéria e a Etiópia vivem as situações mais aflitivas.
Este levantamento é feito a partir de três indicadores: a subnutrição infantil, a mortalidade infantil e a proporção de pessoas com deficiências calóricas. No entanto, os dados que nele constam referem-se a 2006, pelo que não dá conta ainda do impacto que teve a recente crise alimentar.
Mas deixa claro onde ela incidiu com mais força: junto daqueles que já estavam mais fragilizados. Até porque aqueles que estão nos últimos lugares do índice são também aqueles que mais dependem do exterior, já que não exportam. Portanto, a alta de preços prejudicou-os ainda mais.

Bons resultados no Peru Apesar de tudo, o mundo não está tão mau como em 1990, embora os progressos fiquem muito aquém do que se desejaria. Desde essa altura, este índice foi reduzido em um quinto. Ou seja, ainda se está muito longe de diminuir para metade o número de pessoas que passam fome no planeta, tal como os países se tinham comprometido nos Objectivos do Milénio.
Os maiores progressos foram atingidos no Kuwait - se bem que aqui o termo de comparação (1990) coincidiu com a invasão do Iraque, o que distorce os resultados -, mas sobretudo no Peru, onde o índice baixou mais de 70 por cento graças ao controlo da inflação e à aposta numa receita certa: o desenvolvimento agrícola.
Outros países registaram grandes melhorias, como a Síria, a Turquia, o México, o Egipto, o Vietname, a Tailândia, o Brasil e o Irão. Outros pioraram de forma assustadora, como o Congo, a Coreia do Norte, a Suazilândia, a Guiné-Bissau e o Zimbabwe.
É na África subsariana e no Sul da Ásia que estão as piores situações.
Enquanto em muitas partes do mundo o índice chegou a baixar 40 por cento, como é o caso da América Latina, no continente africano a fome parece enraizada. Reduziu-se apenas 11 por cento desde 1990.

Falta de liberdadeAs guerras e os conflitos explicam parte do problema. Mas há uma outra coincidência: todos os 15 países que mais passam fome foram classificados no Índice de Liberdade com não livres ou só parcialmente livres.
Como parte intrínseca do problema, é em África que vivem os mais pobres dos pobres. E aqueles que menos têm também são os que menos se ouvem, pois vivem em áreas rurais remotas, pertencem muitas vezes a minorias étnicas e não têm qualquer capacidade para romper este ciclo vicioso.
Mas este pode não ser uma fatalidade, acreditam as três organizações que construíram o índice.
O International Food Policy Resarch Institute considera que tem de se expandir a resposta mundial às situações de emergência, eliminar as restrições às exportações, apoiar a pequena agricultura e mudar a política em relação aos biocombustíveis, que tem desviado terrenos e cereais da produção de alimentos.
A Welthungerhilfe defende também o desenvolvimento rural e o aumento da produtividade agrícola e a Concern Worldwide reforça a necessidade de se continuar a canalizar ajuda alimentar para quem não acede aos mercados.
Em todos os planos de acção destas organizações, uma ideia comum: a aposta na agricultura, aumentando produtividades, transferindo tecnologia, fornecendo factores de produção, como sementes e adubos. Assim como um acordo sobre o comércio que reduza as distorções de mercado. Nada de novo mas que tarda em se concretizar.

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