Modelo agrícola alentejano de Roussel só agora está sob controlo

Grandes superfícies comerciais europeias pressionam e substituem Governo na exigência de certificação de qualidade dos produtos

A O mau modelo agrícola baseado no uso intensivo de fertilizantes e pesticidas teve a sua expressão máxima nos 550 hectares que o empresário francês Tierry Roussel adquiriu e explorou, entre 1988 e 1994, no lugar de Brejão, no concelho de Odemira. E só agora esse passivo ambiental que ainda persiste, embora em menor escala, começa a ser controlado, embora por pressão das grandes superfícies comerciais europeias, que se substituem ao Governo português ao exigir a certificação de qualidades dos produtos produzidos naqueles terrenos.O sinal mais visível dos impactes negativos provocado por este tipo de agricultura observa-se no excesso de nutrientes das linhas de água. Continuam a usar-se os mesmos fertilizantes a que Roussel recorria e a sua aplicação, em excesso, aflui às pequenas linhas de água que desaguam na costa atlântica, muitas delas nos areais de praias com uso balnear.
Com efeito, os terrenos arenosos onde são cultivados diversos produtos, em regime intensivo, pelas oito empresas agrícolas que integram a Associação de Horticultores do Sudoeste Alentejano (AHSA), funcionam apenas como suporte das plantas. Todo o sustento em nutrientes é-lhes fornecido na água de rega, como acontece nas culturas hidropónicas (cultura sem terra). Um agricultor da região que pediu o anonimato disse "persistir o uso de doses mais elevadas do que o necessário de fertilizantes e pesticidas", para além de não fazerem a rotação de culturas, pormenor que potencia o aparecimento de doenças que depois são combatidas com doses maciças de pesticidas.
Uma das mais graves consequências da passagem de Tierry Roussel pelo Brejão residiu nos materiais plásticos utilizados em estufas que continuam a proteger as diversas culturas horto-frutícolas. Em 2006, ainda estava por encaminhar parte do plástico utilizado nas explorações do empresário francês, que se encontrava mal acondicionado no interior do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina.
Embora sem o impacte de há duas décadas, restos de material de viveiro de plantas como tabuleiros e vasos, embalagens de fertilizantes e agro-químicos, tubagens e plástico de estufas continuam a amontoar-se no interior de pinhais ou nas bermas de caminhos rurais. O presidente da Câmara de Odemira, António Camilo, esclarece que "as empresas actualmente dão destino final adequado às embalagens e outro material", embora este tipo de procedimentos "não seja licenciado ou fiscalizado pelo município". Por sua vez, o Ministério da Agricultura garante que a recolha de resíduos resultantes da actividade agrícola é feita "através de empresas privadas ou públicas e entregues nos centros de recolha".
Didier Merchier, administrador da Frupor, uma das empresas que se dedicam à horticultura e floricultura na zona do Brejão, e dirigente da AHSA, falou apenas da sua empresa para referir que na aquisição de produtos negoceia com o fornecedor a obrigação deste levar os materiais plásticos, já sem uso, para reciclar.
As oito empresas que integram aquela associação, criada em 2004, cultivam 1615 hectares de terrenos arenosos ao longo da costa e dão trabalho a 1830 trabalhadores. A produção destina-se aos mercados do Norte da Europa e EUA, servindo grandes superfícies como a Marks & Spencer ou o Harrods e gerou em 2007 um volume de negócios de 60 milhões de euros obtidos na produção de vegetais (empresa Vita Cress); relva, beterrabas e cenouras (Camposol II); couve-chinesa, cenouras e verdes ornamentais (Frupor); morangos e framboesas (Wellpict Portugal); bambus (Bambuparque); morangos, framboesas, amoras e mirtilos (Berryport); pimentos (Atlantic Growers); batatas-doces, rabanetes, couves-rábanos e alhos-
-franceses (Gemusering Portugal).
Roussel é acusado de ter criado uma estação experimental no Brejão com nefastos efeitos ambientais nefastos

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