Câmara poderá ter que devolver 3,8 milhões



Com o afastamento definitivo da ideia de colocar o metro no eixo da Avenida da Boavista, a Câmara do Porto pode vir a ter que devolver as quantias que em 2005 recebeu da Metro do Porto como adiantamento das despesas de requalificação que a passagem do metro implicaria naquela artéria. A intervenção foi executada apenas no troço entre o Castelo do Queijo e o cruzamento da Fonte da Moura, onde se inclui todo o percurso ao longo do Parque da Cidade que serviu para a realização do Grande Prémio da Boavista, o circuito de automóveis antigos que pela primeira vez se realizou em Julho desse ano.
As obras orçaram num total de 4,9 milhões de euros, tendo 3,8 sido suportados pela empresa do metro e os restantes 1,1 milhões pelos cofres camarários.
Nos termos do protocolo então celebrado entre a Metro, a Câmara do Porto e a empresa municipal Gestão de Obras Públicas (GOP), ficou estabelecido que a comparticipação da Metro estava "condicionada à aprovação da linha da Boavista pelas entidades competentes", o que acaba assim por não acontecer.
Além de o protocolo ter sido aprovado numa altura em que o próprio presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, ocupava também a presidência da empresa do metro, os partidos da oposição criticaram ainda o envolvimento da empresa numa obra que foi executada em ano de eleições autárquicas. Os vereadores do PS chegaram mesmo a pedir a intervenção do Governo, que sempre disse desconhecer este investimento da Metro.
Mais de um ano depois, as conclusões do relatório da inspecção do Tribunal de Contas criticavam a gestão da empresa, questionando as despesas efectuadas com as obras na Avenida da Boavista, precisamente pelo facto de terem sido concretizadas e pagas antes de se saber se uma nova linha passaria por ali.


Expansão da rede do metro do Porto já não vai passar na Boavista

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A linha da Boavista era uma das grandes apostas do presidente da Câmara do Porto Paulo Ricca (arquivo)

Era a grande aposta de Rui Rio, mas a linha de metro na Avenida da Boavista não será contemplada no projecto de expansão da rede, cujas linhas serão amanhã apresentadas pelo ministro Mário Lino aos autarcas da Junta Metropolitana do Porto (JMP).

As novas ligações que avançarão com a segunda fase de construção de rede do metropolitano prevêem uma nova linha entre Matosinhos e o centro do Porto, com passagem pela zona da Foz e Campo Alegre até à estação de São Bento. Outra nova linha, entre a Senhora da Hora e o Hospital de São João, por São Mamede de Infesta, e uma ligação ao centro de Gondomar, pela zona de Valbom, são outras opções acolhidas pelo Governo. Para além destas três novas linhas, o projecto de expansão inclui ainda as já projectadas ligações à Trofa, estendendo a ligação até à Maia actual, e o prolongamento da linha de Gaia até Laborim.

Nos últimos dias, Rui Rio vinha-se desmultiplicando em declarações muito críticas para o Governo e a administração da Metro do Porto, que acusava de não cumprir com os compromissos anteriormente assumidos e de manter os autarcas à margem do processo de expansão da rede.

Durante a última reunião da Câmara do Porto, Rio disse mesmo ter informações vindas do interior do Ministério das Obras Públicas, segundo as quais o Governo "jamais faria a linha da Boavista antes das eleições legislativas". O autarca chegou até a classificar o comportamento da administração da Metro como "miserável", por não prestar qualquer informação aos autarcas - que integram a administração da empresa como membros não executivos - e a sugerir que esta atitude estava a ser seguida em articulação com o Governo. A questão da linha da Boavista parece ser o ponto sensível nas relações recentes entre o presidente da JMP e o Governo, até porque foram já executadas obras naquela artéria, antevendo a passagem do metro (ver caixa).

Perante o quadro traçado pelo Governo para a segunda fase da rede do metropolitano, a interrogação que se coloca agora é saber como irá reagir o líder da JMP, que vinha argumentando com a sustentabilidade de um estudo feito pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Durante as negociações com o Governo, Rio sempre se mostrou intransigente em relação ao traçado da Avenida da Boavista, cujos estudos estavam já concluídos. O Governo, no entanto, contrapunha com a necessidade da realização de novas avaliações técnicas onde fossem contempladas alternativas ao traçado da Boavista, numa perspectiva integrada para a segunda fase.

Gondomar por Valbom

O traçado que o Governo vai avançar como alternativa à Boavista arranca da praia de Matosinhos, passa pela zona do Castelo do Queijo e atravessa a área da Foz por uma zona interior paralela à Avenida do Brasil. Servirá depois a Universidade Católica/Pr. do Imprério, a zona da Pasteleira, seguindo para o pólo universitário do Campo Alegre. O metro circulará depois pelo Palácio de Cristal e Hospital de Santo António antes do terminus na Estação de São Bento.


Embora não estivesse prevista no memorando assinado em 2007 entre a JMP e o Governo, a solução para a segunda fase avança também com uma linha que ligará Senhora da Hora ao Hospital de São João. A ideia é servir as populações do corredor que passa por São Mamede de Infesta, aproveitando parte do já existente canal ferroviário de mercadorias que liga Campanhã ao Porto de Leixões.

Quanto à solução para ligar ao centro de Gondomar, a opção vai pela construção de uma nova linha, em vez do prolongamento do troço entre o Estádio do Dragão e Venda Nova, cujo concurso está já na fase final. A ligação a Gondomar arrancará da zona da Avenida Fernão de Magalhães, passa por Campanhã e Valbom, e entra naquele concelho pela zona sul, como sempre foi reivindicado pelos autarcas e dirigentes do PS.

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