Mathilde Monnier e La Ribot vão ser Buster Keaton por uma noite no Circular

Gustavia, o girl-meets-girl das duas coreógrafas,
é o grande destaque da quarta edição do festival
de artes performativas de Vila do Conde

a É mais fácil começar a falar da quarta edição do Circular - Festival de Artes Performativas pelo fim: no fim, e isso é dia 27 de Setembro, há a estreia nacional de Gustavia, inesperado encontro imediato entre a francesa Mathilde Monnier e a espanhola La Ribot, duas das mais singulares e influentes figuras da dança contemporânea europeia. Elas vão ser Buster Keaton por uma noite, em Vila do Conde, neste espectáculo raro (é invulgar ver Mathilde Monnier a dançar) em que transplantam os códigos do burlesco clássico para a dança (pode doer, dizem elas, porque "o que está a ser exposto no burlesco é o que normalmente é suposto estar escondido na dança"). Há vida para além de Mathilde Monnier e La Ribot no festival, que abre dia 20 com o ciclo site-specific dos artistas Alejandra Salinas e Aeron Bergman: uma performance (Kahuna, no Auditório Municipal) e duas instalações (Big Cahuna, também no Auditório, e Ikea das Rendas, no Museu das Rendas de Bilros), construídas na sequência de uma residência de um mês em Vila do Conde em que Salinas e Bergman se apoderaram do folclore local para o transformar nisto que vamos ver daqui a duas semanas. Os primeiros dias do Circular incluem ainda duas estreias absolutas de Rogério Nuno Costa, Espectáculo de Teatro (dia 20) e The Curator's School (de 22 a 26), a terceira fase do projecto A Oportunidade do Espectador, iniciado em Novembro do ano passado em Torres Vedras: mais do que espectáculos prontos-a-consumir, são experiências que exigem um compromisso do espectador, que é convidado a inscrever-se em vez de ser apenas convidado a pagar o bilhete e a sentar-se na cadeira.
Das Coisas Nascem Coisas (dia 25 no Auditório), a última criação de Cláudia Dias (teve estreia em Lisboa, no último alkantara), e Teatro (dias 26 e 27 na Rua da Junqueira, em Azurara), projecto que o colectivo estreou em 2003 e continua a desenvolver, são os outros itens do programa deste ano, que uma vez mais propõe uma conversa-síntese no final de cada apresentação. Faz parte do caderno de encargos do festival comissariado por Paulo Vasques e Dina Magalhães (já que começamos pelo fim, acabamos no princípio): mais do que um showcase das artes performativas de matriz experimental, o Circular é sobretudo um espaço de questionamento do próprio conceito de artes performativas que privilegia a participação directa do público e o envolvimento contínuo da comunidade na produção de um discurso crítico sobre a criação contemporânea.

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