Escudo de defesa antimíssil: Acordo entre EUA e Polónia enfurece Moscovo

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Os EUA têm agora caminho livre para instalar, nos próximos anos, dez baterias de mísseis interceptores na Polónia Kevin Lamarque/Reuters

Os Estados Unidos e a Polónia assinaram ontem um acordo para a instalação de interceptores do escudo antimíssil que Washington pretende colocar em solo polaco, desencadeando uma rápida e hostil resposta de Moscovo. Este negócio agrava as já tensas relações entre a Rússia e o Ocidente, já muito debilitadas por causa da recente intervenção russa na Géorgia.

A Rússia advertiu, ontem à noite, depois de conhecido o acordo entre Varsóvia e Washington, que a sua reacção não se limitará a uma "acção diplomática".

O potencial bélico-estratégico dos Estados Unidos "aproxima-se insistentemente das nossas fronteiras", denunciou o Ministério russo dos Negócios Estrangeiros em comunicado aos órgãos de comunicação social.

O ministério russo dos Negócios Estrangeiros acredita que as dez bases de mísseis interceptores, que os Estados Unidos pretendem implantar na Polónia - e que têm o objectivo de interceptarem, segundo Washington, mísseis disparados por Estados pária ou por grupos terroristas como a al-Qaeda –, não têm "um outro objectivo que os mísseis balísticos intercontinentais russos."

A Rússia acusa os Estados Unidos de pretender "romper o equilíbrio estratégico a seu favor, impedindo o reforço da estabilidade no mundo", explicou o ministério.

A diplomacia russa garantiu que o escudo antimísseis norte-americano faz parte da estratégia para renunciar ao Tratado de Limitação de Armamento Estratégico, e desenvolver armas espaciais de última geração.

A informação difundida pelos Negócios Estrangeiros da Rússia salienta que o acordo assinado entre Moscovo e Varsóvia tem um novo aspecto, nunca anteriormente mencionado: uma base adicional de mísseis Patriot.

A Rússia defende que "não pode haver qualquer ligação entre estas instalações de mísseis e a ameaça imaginária de um ataque pelo Irão".

"Teerão não tem qualquer intenção, bem como nos próximos anos não terá capacidade tecnológica, de atacar com mísseis a Europa, já para não falar dos Estados Unidos", garantem os Russos.

No entanto, a Rússia afirma que "mesmo numa situação tão complicada, não tem intenção de abandonar o diálogo, e está disposta a continuar a trabalhar com todas as partes interessadas."

Sinal desta tensão crescente, o chefe adjunto do Estado-Maior do Exército russo, o general Anatoli Nogovitsin, avisou, pouco depois da cerimónia de assinatura em Varsóvia, que “a Polónia se expõe a um ataque”.

EUA negam ameaça à Rússia e dizem não querer regresso à Guerra Fria

Este escudo “vai ajudar-nos a enfrentar as novas ameaças do século XXI, as ameaças dos mísseis de longo alcance de países como o Irão ou a Coreia do Norte”, declarou ontem a secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, pouco antes da cerimónia de assinatura, em Varsóvia, que sempre tranquilizou a Rússia acerca desta manobra militar.

A chefe da diplomacia norte-americana garantiu que o escudo antimíssil não representa qualquer ameaça para a Rússia e disse que o seu país não está interessado num regresso à Guerra Fria. “Este é um período difícil, mas creio que não devemos exagerar a dimensão das dificuldades”, sublinhou.

Os EUA têm agora caminho livre para instalar, nos próximos anos, dez baterias de mísseis interceptores na Polónia, que vão funcionar em coordenação com um potente radar que ficará sediado na República Checa, o outro país do antigo bloco comunista que chegou a acordo com Washington.

Este projecto permitirá a Washington concluir uma rede de escudos antimísseis à escala planetária, que incluiu já um sistema em funcionamento em território americano, outro na Gronelândia e um terceiro no Reino Unido. Os planos dos EUA receberam o apoio unânime dos restantes aliados da NATO, que esperam beneficiar da protecção deste sistema. De acordo com o Artigo 5 da Aliança Atlântica, um ataque a um membro da NATO é considerado um ataque a todos os outros.

O Presidente polaco afirmou, por seu lado, que a instalação dos interceptores representa uma segurança adicional para o país, já que Washington reafirmou o compromisso de defender o território polaco em caso de uma eventual agressão. “Ninguém mais nos vai dizer aquilo que devemos fazer”, afirmou Lech Kaczynski, numa referência clara à Rússia.

Os interceptores serão instalados na antiga base de Redzikowo, no norte da Polónia, a 1360 quilómetros de Moscovo e 300 quilómetros do enclave de Kalinegrado, na costa do Mar Báltico.

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