Evo Morales é um sobrevivente

Do Chaparé à presidência, o percurso invulgar
de um antigo plantador de folha de coca

O mínimo que se pode dizer de Evo Morales, de 48 anos, é que é um sobrevivente. O resultado do referendo de domingo provou-o outra vez. Evo Morales Ayma nasceu no dia 26 de Outubro de 1959, sem assistência médica, num lugar sem electricidade nem água. Dos seis irmãos que teve, quatro morreram antes de atingirem os dois anos de idade. Para sobreviver, guardou gado, trabalhou no que encontrou nos Andes, depois na Amazónia e de novo nos Andes, de onde foi empurrado pela seca dos anos 1980. Na região agrícola do Chaparé, onde se fixou, viveu do cultivo da folha de coca. E foi ali que nasceu para a política.
Sindicalista da Confederação Operária da Bolívia, tornou-se deputado em 1997. Depois da revolta dos plantadores de coca, em 2003, que o então Presidente liberal Gonzalo Sánchez de Lozada reprimiu a tiro, antes de fugir para os Estados Unidos, liderou o Movimento para o Socialismo e concorreu à presidência. Ganhou as eleições, em Janeiro de 2006, tornando-se, com 53,4 por cento dos votos, o primeiro indígena a ascender ao cargo.
"O meu grande sonho é conseguir realizar a unidade do povo boliviano", declarou, no domingo, aos jornalistas no momento em que votava, na sua região natal, na companhia de dois filhos - Alvaro, 12 anos, e Evaluz, 13 - e sem segurança à vista.
De si, os observadores dizem que é um apostado adversário do liberalismo e do monopólio das oligarquias que dominam a Bolívia, desde a independência, há 183 anos, e que quer "refundar".

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