Líder da oposição malaia acusado de sodomia saiu sob fiança e continuará a fazer campanha

Anwar Ibrahim sujeita-se a uma pena até 20 anos de prisão e diz que a acusação está a agir com "intenções maliciosas" em vésperas de eleições intercalares

a O líder da oposição na Malásia, Anwar Ibrahim, foi ontem formalmente acusado de sodomia, num processo que poderá prejudicar as suas hipóteses de regressar ao Parlamento após as eleições intercalares marcadas para 26 de Agosto. Declarou-se inocente, alegou que a acusação tem motivações políticas e maliciosas e garantiu que irá prosseguir com a campanha eleitoral.Ibrahim tem 60 anos, já tinha sido acusado por conduta sexual imprópria em 1998 e esteve detido até ao final de 2004. Na Malásia, um país maioritariamente muçulmano, a sodomia é considerada crime, mesmo quando praticada por adultos e com mútuo consentimento. Pode ser punida com 20 anos de prisão.
A juíza Jomathy Suppiah determinou que o líder da oposição sairia em liberdade mediante uma fiança de cerca de 6100 dólares (3945 euros). "Um homem é inocente até prova em contrário e não penso que Anwar Ibrahim vá fugir", explicou. O acusado disse estar "satisfeito" com a decisão e garantiu que irá continuar a empenhar-se na campanha.
A acusação baseia-se numa queixa apresentada na polícia por um antigo colaborador de Ibrahim, Mohamad Saiful, de 23 anos, que diz ter praticado sodomia com o líder da oposição num apartamento em Kuala Lumpur, a 26 de Junho. De acordo com a legislação da Malásia, Saiful seria também acusado de sodomia, mas o ministro malaio do Interior, Syed Hamid Albar, disse à agência noticiosa oficial Bernama que isso não acontecerá porque apresentou queixa. "Temos de fazer escolhas. Acusamos o homem que relatou à polícia o que aconteceu?"
À porta do tribunal foi montado um cordão de segurança com cerca de 200 polícias. Dezenas de apoiantes acompanharam a chegada de Anwar Ibrahim a gritar "reformasi", o slogan da coligação reformista Aliança do Povo. "O Governo da Malásia parece estar a manipular o sistema legal para aumentar o apoio ao regime e minar a oposição", disse o director da organização de defesa de direitos humanos Human Rights Watch na Ásia, Brad Adams.
A popularidade do Governo do primeiro-ministro Abdullah Badawi tem diminuído, sobretudo por causa da inflação. Nas eleições que se realizaram em Março a coligação Barisan Nasional, no poder, obteve os piores resultados em mais de 50 anos, o que transforma o escrutínio intercalar numa oportunidade para Ibrahim regressar ao Parlamento. Isto acontece numa altura em que a oposição se prepara para votar contra uma moção de confiança ao Governo,agendada para 16 de Setembro. Ibrahim deverá voltar a tribunal antes disso, uma vez que ficou marcada uma nova audiência para 10 de Setembro. Para que o actual Governo seja dissolvido a oposição terá de contar com os votos de 30 dos 140 deputados da coligação no poder.

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