Torne-se perito

Supressão de provas

a A falácia da supressão de provas ou indícios é de tal modo grave que um biólogo, físico ou químico apanhado a fazer tal coisa perderá muito provavelmente o emprego, além de se tornar alvo da merecida reprovação por parte dos colegas. Suprimir provas ou indícios permite fingir que se prova seja o que for. Por exemplo, imagine-se que quero provar que lavar os pés com água do mar previne a calvície. Armo-me em cientista de faz-de-conta e concebo uma série de experiências para provar a minha tese. Como sou careca e uma besta, limito-me a fechar os olhos sempre que a realidade contraria a minha tese, e anoto cuidadosamente os casos em que a realidade parece estar de acordo com ela. Ao fim de algum tempo, concluo triunfante que a minha tese está correcta.Se pensa que esta falácia é demasiado tola para que um adulto caia nela, desengane-se. Partes importantes da vida humana dependem dela, porque nem sempre é óbvia. Nas incorrectamente chamadas humanidades, por exemplo, não só muita da investigação que se faz nas universidades é uma imensa falácia de supressão de provas, como é precisamente isso que se ensina os estudantes a fazer.
Seja o que for que você pensa acerca de seja o que for, há de certeza algum autor que pensa a mesma coisa, sobretudo se for um lugar-comum académico. Basta fazer um estudo desse autor e ignorar os que discordam dele para dar a impressão de ter conseguido provar que o que você pensa ser verdade ou pelo menos plausível. Para não parecer que se trata de uma falácia infantil, disfarça a sua "investigação" de "levantamento" das ideias do autor ou autores em causa; mas sub-repticiamente estará sempre a sugerir que esse autor tem razão.
Há demasiada pseudo-investigação deste género hoje em dia nos meios académicos mais frágeis. Para provar qualquer coisa de desagradável sobre a "racionalidade ocidental", ou para dizer mal da "modernidade" ou da ciência, um sociólogo especulativo, por exemplo, só tem de usar os trabalhos de outros autores que dizem exactamente o mesmo, ignorar os que dizem o contrário, e está o trabalho feito. Não se pode sequer falar de fraude pessoal, porque a pessoa em causa foi de tal modo intelectualmente deformada, que nem se dá conta do que está a fazer: limita-se a aplicar a receita que lhe ensinaram.
A investigação das coisas, seja em que área for, tem de procurar activamente aquilo que refuta o que pensamos, por mais agradável que seja pensar isso. Em física, a queda redonda refuta a ideia agradável de que se eu bater os braços com força consigo voar. Em filosofia, história, educação, sociologia, teoria da literatura ou qualquer outra área, basear as nossas ideias nos autores que mais nos agradam só porque nos agradam é igualmente falacioso. A primeira preocupação do investigador íntegro é procurar os melhores argumentos e autores contra a ideia que mais lhe agrada, e procurar refutá-los. Sem esse trabalho, a investigação é pura falácia de supressão de provas e nunca somos obrigados a pensar outra vez.

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