Estudo do Hospital de Santa Maria da Feira mostra que depressão pós-natal atinge um em cada sete homens
Um em cada sete homens (15 por cento) de casais seguidos na consulta de obstetrícia do Hospital de Santa Maria da Feira registaram uma depressão pós-natal quando os seus bebés tinham seis semanas, indica um estudo realizado de Julho de 2005 a Agosto de 2006.
A investigação do enfermeiro Aldiro Magano envolveu 60 homens através de avaliações às 36 semanas de gravidez e segunda e sexta semanas após o nascimento, com base na escala de EPDS (Escala de Depressão Pós-Natal de Edimburgo).
Aldiro Magano referiu que as suas conclusões, que constam na sua tese de mestrado defendida sexta-feira, coincidem com os estudos internacionais que, sendo mais prolongados, indicam os 12 meses como o pico da depressão no sexo masculino.
O investigador refere que o prolongamento do estudo poderia indicar mais indivíduos deprimidos, já que oito por cento tinham uma situação dúbia: poderiam melhorar ou piorar.
A investigação, que também observou as mulheres dos casais, entrou agora numa segunda fase com a avaliação dos perfis, para pesar a possibilidade de uma extrapolação a nível nacional.
Os valores entre as mulheres chegaram aos 25 por cento. "As mulheres deprimem mais e com os níveis mais graves", resumiu.
A população analisada também obedeceu a vários requisitos, nomeadamente condições de saúde, e acabou por "representar uma classe social ligeiramente mais alta que o geral da região de Santa Maria da Feira". Com esta amostra, o estudo concluiu que quanto mais alto era o cargo ocupado, maior tendência havia para depressão.
A actividade profissional da maior parte dos deprimidos era liberal e com objectivos a atingir, como vendedores e gestores de empresas pequenas e familiares, informou o enfermeiro, acrescentando que a média de idades é de 30 anos (oscilando entre os 18 e os 39 anos).
Também se notou que os casados, que compunham a maior parte da amostra, tinham mais tendência para a depressão.
Depressão masculina levou a maiores complicações no partoA depressão masculina assinalada às 36 semanas de gestação levou a maiores complicações no parto e partos mais difíceis tiveram associados mais depressões, acrescentou Aldiro Magano. Também há maiores índices quando a gravidez não foi planeada.
Na 36ª semana, a depressão no homem influencia a mulher e vice-versa, indicou ainda.
A observação notou que os homens "normalmente desvalorizam a depressão e a sua primeira reacção é que 'isto é normal e passa' e nunca referem dificuldades financeiras, apesar da relação entre os dois itens".
A depressão durante a gravidez é marcada pela ansiedade, incerteza, por antever a dificuldade em organizar o dia-a-dia, principalmente depois do suporte social desaparecer dias depois do nascimento.
Depois do nascimento, os sintomas passam pela "tristeza, sentir que o mundo está a desabar, o choro fácil, desespero, sensação que tudo corre mal, impotência, excesso de trabalho e a alegria inicial com o nascimento do filho começa a desvanecer-se".
Uma das formas para prevenir esta situação pode passar por um rápido inquérito, com base na escala de EPDS, na consulta de obstetrícia das 36 semanas, altura em que habitualmente o casal começa a ser seguido no hospital.
Caso existam indícios, os indivíduos poderão ser encaminhados para o centro de saúde para uma repetição da entrevista à sexta semana ou seis meses depois do nascimento.
Também poderá haver encaminhamento para consultas específicas de psicologia e psiquiatria.