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O Couraçado Potemkin (1925)

Com uma filmografia breve mas uma visão cinematográfica intensa,
é o mais célebre dos realizadores russos. A obra-prima O Couraçado Potemkin consagrou-o internacionalmente aos 27 anos

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Relato da revolta dos marinheiros de um navio de guerra russo, Bronenosets Potyomkin/O Couraçado Potemkin (1925), de Sergei Eisenstein, é um dos mais conhecidos filmes da história do cinema e apresenta uma das mais célebres sequências da sétima arte. Para Charlie Chaplin, era mesmo o seu favorito.
Apesar do imediato reconhecimento internacional, o fervor revolucionário de Potemkin causou polémica em vários países, durante a sua estreia. No Reino Unido, foi considerado subversivo e, consequentemente, banido até 1954. Na Alemanha, mereceu a censura das autoridades nazis e teve uma circulação limitada nos Estados Unidos.
Inspirado nos acontecimentos reais de 1905, o filme divide-se em cinco episódios, três dos quais passados a bordo do navio e coincidentes com a memória histórica da revolta. Aliás, Eisenstein contratou, como actor e consultor do projecto, um dos intervenientes do motim. Assim, a tensão gerada pela carne podre, servida como alimento aos marinheiros, e a reunião de todos os homens no convés do navio, tal como a morte de um dos insurrectos e o seu funeral à beira-mar, são exemplos do realismo de O Couraçado Potemkin.
Já a sequência na escadaria de Odessa surge como uma síntese do drama que, na verdade, foi vivido em vários locais da cidade. Considerada uma das mais poderosas imagens políticas de sempre, não tem correspondência real, ainda que, graças ao sucesso da obra de Eisenstein, se pense o contrário. O conflito produzido pela montagem, contrapondo a inocência e a violência, torna esta cena inesquecível pela intensidade dramática que proporciona ao espectador.

a "Cineasta da revolução soviética", Sergei Eisenstein distinguiu-se pelo trabalho pioneiro que desenvolveu na montagem. Os seus artigos, livros e filmes inspiraram inúmeros realizadores que, ainda hoje, defendem o impacto de obras como O Couraçado Potemkin (1925) na sua visão cinematográfica.
Para Eisenstein, a montagem ia além da associação de imagens relacionadas. A "colisão" de cenas podia ser usada para manipular as emoções do público e criar metáforas fílmicas. "Uma obra de arte compreendida dinamicamente não é mais do que um processo de organização de imagens e sentimentos na mente do espectador", afirmou.
Filho de um engenheiro e arquitecto de ascendência judaica alemã, Sergei Mikhailovitch Eisenstein estava, desde o berço, predestinado a seguir a carreira do pai. Iniciou, por isso, uma especialização em arquitectura no Instituto de Engenharia Civil de Petrogrado, em 1915. Porém, três anos depois, revoltou-se ao alistar-se no Exército Vermelho, opondo-se ao pai, apoiante dos exércitos brancos.
Por sua vez, o mundo do espectáculo entrou na vida do jovem em 1920, através do Proletkult, o Teatro dos Trabalhadores. Como cenógrafo, Eisenstein trabalhou com Vsevolod Meyerhold, uma das grandes influências da sua carreira. Meyerhold explicou-lhe o conceito de biomecânica ou espontaneidade condicionada. E foi a partir daí que Eisenstein concebeu a "montagem de atracções", divulgada em 1923 na revista LEF.
O ano de 1923 foi igualmente marcado pela sua primeira experiência cinematográfica, a curta-metragem O Diário de Glumov. Contudo, a verdadeira estreia no grande ecrã deu-se um ano depois com A Greve. E, em 1925, seguiu-se O Couraçado Potemkin, de imediato aclamado pela crítica internacional. Esse facto permitiu-lhe dirigir Outubro (1927) e A Linha Geral/O Velho e o Novo (1929). Mas a sua preocupação com os ângulos da câmara ou a montagem do filme não era bem vista pela comunidade cinematográfica soviética.
Esse descontentamento foi pretexto, em 1928, para uma digressão oficial de Eisenstein pela Europa. Acompanhado pelos colaboradores Grigori Alexandrov e Édouard Tissé, o realizador passou os dois anos seguintes em Berlim, Zurique, Londres e Paris. Uma proposta da Paramount Pictures fixou o destino seguinte - os Estados Unidos.
Sergei Eisenstein chegou a Hollywood em Maio de 1930. Porém, a sua abordagem artística e temperamental do cinema revelou-se incompatível com a fórmula comercial dos estúdios americanos. Todos os projectos que o cineasta propôs foram recusados pelos produtores da Paramount e, em Outubro, o contrato foi anulado.
Entretanto, o escritor socialista Upton Sinclair conseguiu, junto das autoridades russas, uma permissão para Eisenstein viajar até ao México em trabalho. Sinclair, a sua mulher e três investidores fundaram a Mexican Film Trust, produtora com quem o realizador assinou um contrato, assegurando a sua liberdade artística. O projecto ¡Qué viva México! (1931) não chegou, todavia, a ser concluído devido a divergências com o casal Sinclair. Embora o negativo da rodagem tenha originado três filmes, o seu autor nunca viu o resultado final.
De regresso à União Soviética, Eisenstein atravessou uma fase atribulada, marcada pela depressão e projectos falhados. Em 1938, a longa-metragem Alexandre Nevsky valeu-lhe a Ordem de Lenine e o Prémio Estaline. Antes de morrer, vítima de um ataque cardíaco aos 50 anos, envolveu-se numa última obra polémica, a trilogia de Ivan, o Terrível (1944-1958).

1898 - Descendente de judeus, Sergei Mikhailovitch Eisenstein nasce a 22 de Janeiro em Riga (na época Rússia, hoje Letónia).1906 - Visita Paris e assiste ao seu primeiro filme - Les Quatre Cents Farces du Diable, de Méliès.
1909 - Os seus pais separam-se.
1915 - Frequenta o Instituto de Engenharia Civil de Petrogrado e especializa-se em arquitectura.
1918 - Alista-se no Exército Vermelho.
1920 - Cria cenários e guarda-roupas para várias peças de teatro.
1926 - Apresenta-se na estreia triunfal de O Couraçado Potemkin em Berlim.
1928 - Descobre Ulisses, de James Joyce.
1934 - Encontra-se com André Malraux, com quem discute a possibilidade de adaptar A Condição Humana. Casa com Péra Attasheva, mas o casal nunca vive junto.
1937 - Escreve o argumento de Alexandre Nevsky.
1939 - Recebe a Ordem de Lenine.
1941 - Face ao avanço das tropas nazis, sai de Moscovo.
1942 - Publica o seu primeiro livro, The Film Sense.
1946 - Sofre um enfarte.
1948 - Morre a 10 de Fevereiro, semanas depois de ter completado 50 anos.

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