Optimus Alive! arranca com música de combate

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O festival testemunhou o regresso em grande dos Rage Against The Machine DR

O Optimus Alive! começou ontem, no Passeio Marítimo de Algés. O cartaz, ultra-promissor, traduziu-se num fluxo de concertos que tão depressa subiu em flecha como caiu em estados mornos. Pelo meio, houve momentos inesquecíveis, como Vampire Weekend e Rage Against The Machine.

Depois de uma entrada demorada, debaixo do aperto do calor, a porta do festival dava as boas-vindas com as covers de uma banda a tocar ao vivo no pórtico da entrada (Violent Femmes, Muse, Offspring, etc). Uma boa ideia. Lá dentro, um espaço imenso, a pedir passos longos e repetidos entre o Palco Optimus, a Tenda Metro On Stage e, entre outras atracções, uma novidade chamada The Do Lab, um espaço que foi eleito por muitos para ver o espectáculo da companhia americana, garantir uma sombra, ouvir boa música ou, simplesmente, aproveitar os contínuos borrifos de água. A percorrer o circuito, gente de vários pontos do país, mas também espanhóis, ingleses e muitos visitantes estrangeiros, a confirmar a boa posição do Alive! na rota internacional de festivais.

O Palco Optimus arrancou com os metal "war time" dos Kalashnikov, a banda irónica-revolucionária-politizada de Jel, em jeito de dica para a música de combate que o fim da noite reservava. Foi um começo explosivo. A partir daqui, a música do palco principal iria alternar entre momentos assim, de excesso, e outros de acalmia e até monotonia. A prestação dos Galactic, por exemplo, decorreu com uma tranquilidade que funcionou mais como banda sonora para uma tarde soalheira numa esplanada e menos como atestado da palpitação da sua Nova Iorque. O concerto dos Spiritualized fica na memória de poucos – e é pena –, mas por outras razões: além de terem perdido público para a fabulosa actuação que os Vampire Weekend davam no outro palco, têm uma forma musical que não cai facilmente no ouvido festivaleiro.

A beleza das canções de Jason Pierce consegue ser desconcertante. A postura "shoegaze" também não está ali para conquistar multidões (essa é tarefa para uma banda como The Hives). Mas quem se deixou levar pelas investidas sónicas do grupo inglês – que privilegiaram o último álbum, "Songs In A & E" – pôde levar para casa um momento realmente… espiritual. Dos nova-iorquinos The National esperava-se muito, especialmente depois da última passagem por Portugal. Apesar de se terem saído bem da apresentação de "Boxer", não se pode dizer que tenham estado na sua noite mais inspirada.

O mesmo não se pode dizer de Gogol Bordello. A banda norte-americana não deixou ninguém parar e debitou sem piedade a sua "world music" foliona de alma punk cigana, com elementos de reggae, metal, cabaré, klezmer e tudo o mais que ajude à festa. Excesso é também o nome do meio dos suecos The Hives. Euforia é com eles. Rock n' roll também. Pose ainda mais. A matemática é que não: Howlin' Pelle Almquist, o imparável vocalista, insistiu em apresentar o concerto como o segundo em Portugal. Mentira, é o terceiro. O primeiro (Super Bock Super Rock, 2005) foi, aliás, melhor que este. O segundo (já este ano, no Coliseu de Lisboa) rebentou a escala – e tornou-os vítimas das expectativas.

Sem falsas modéstias, fizeram tudo para agarrar o público e executaram o seu número com a competência, entrega, chama, suor e brincadeira que lhes conhecemos, mas ficou a faltar qualquer coisa que tornasse o concerto memorável (Mais êxitos no alinhamento? Não ter os Rage Against The Machine a tocar a seguir? Riscar o que não interessa). Assim que terminaram, a multidão convergiu para a frente do palco, exibindo t-shirts com estrelas vermelhas, com Che Guevara, com palavras de ordem e, enfim, com referências aos mais aguardados da noite: Rage Against The Machine. Alguém falou em expectativas elevadas?

Após sete anos de separação, Zack de la Rocha voltou, com um sorriso, à companhia dos parceiros de intervenção musical: Tom Morello (guitarra), Tim Commerford (baixo) e Brad Wilk (bateria). Felizmente. Esfregamos os olhos e não acreditamos que este Tom Morello, por exemplo, seja o mesmo que vimos com os Audioslave. Assim, sim: lição de guitarra e talento, como se o instrumento estivesse possuído por uma vontade nunca adormecida. Há carismas que só se revelam totalmente na presença de outros. O culto aos Rage Against The Machine despertou em euforia, com um desfile de grandes clássicos como "Bombtrack", "Bullet in the Head", "Sleep now into the fire", "People of the sun" ou o inevitável "Killing in the name". Expectativas mais que superadas.

O Palco Metro On Stage abriu com um passaporte musical chamado Skip The Use, a pedir atenção urgente. Dos Sons of Albion, projecto de Logan Plant (filho de Robert Plant, dos Led Zeppelin), pouco ficou na retina. Os Vampire Weekend, pelo contrário, protagonizaram um dos melhores momentos do primeiro dia do festival.

A tenda encheu-se para ver a banda nova-iorquina do momento e não saiu desiludida. A receita é esta: postura brit, lógica musical do punk, classicismos com ar de novidade e uns pózinhos de África. Excelente. Falando em pontos altos, não passemos ao lado da contagaiante actuação dos MGMT, os autores de "Time to pretend". Peaches, a menina provocadora do electro, também teve o seu momento. Hercules & Love Affair podia ter sido melhor (faltava Antony para dar sentimento ao "disco"). Para os mais resistentes, o serão prolongou-se continuou com o house/tecno do canadiano Tiga e o electro-indie-tecno de Boys Noise.

O Optimus Alive! prossegue hoje com Buraka Som Sistema & Convidados, Within Temptation, Bob Dylan, The John Butler Trio, Nouvelle Vague, Kumpania Algazarra (Palco Optimus), Sebastian, DJ Mehdi, Busy P., Uffie, DJ Feadz, Krazy Baldhead, Mr. Flash, Vicarious Bliss, Unfair (Metro On Stage). Amanhã, é a vez de Ben Harper & The Innocent Criminals, Neil Young, Donavon Frankenreiter, Xavier Rudd, Braddigan (Palco Optimus), MSTRKRFT, Brodinski, Gossip, Róisín Murphy, Midnight Juggernauts, Juan MacLean & Nancy Wang e Sizo (Metro On Stage).

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