Afinal, o interior da Lua já foi rico em água

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A superfície lunar ainda pode ter água: estará congelada nos pólos Paulo Ricca/PÚBLICO

O pólo Sul da Lua tem mesmo água congelada? A sonda Lunar Reconnaissance Orbiter, que a NASA deverá enviar para o espaço no final deste ano, estará incumbida dessa procura. Se a encontrar, a sua origem pode já estar explicada, de acordo com novas provas apresentadas por uma equipa de cientistas norte-americanos: a água pode ter vindo do interior da própria Lua.

A equipa de Alberto Saal, da Universidade Brown, descreve hoje na revista Nature que a Lua primitiva era rica em água no seu interior. A água foi libertada em erupções vulcânicas ocorridas há mais de 3000 milhões de anos.

Cerca de 95 por cento do vapor de água contido no magma ter-se-á escapado para o espaço, através dessas erupções. A outra parte pode ter ficado acumulada nos pólos frios da Lua no estado de gelo, em crateras onde a luz solar nunca chega.

Pensava-se que o satélite natural da Terra era pobre em elementos químicos altamente voláteis, como o hidrogénio. Pelo menos, foi isso que indicaram as famosas missões Apolo (dos Estados Unidos) e Luna (da ex-União Soviética).

Só que agora, graças ao desenvolvimento de técnicas de análise mais sofisticadas, a equipa de Alberto Saal conseguiu detectar diminutas quantidades de água aprisionada em esférulas de vidro vulcânico e minerais presentes em amostras de solo lunar trazidas para a Terra pelo programa Apolo, que pôs 12 homens na Lua, entre 1960 e 1972. No Apolo, trouxeram-se mais de 380 quilos de amostras.

Nas estimativas dos cientistas, o magma do manto lunar continha, em moléculas de água, cerca de 750 partes por milhão antes de ser ejectado pelas erupções. Este valor, sublinham os cientistas, é semelhante ao conteúdo de água existente no manto primitivo da Terra, que foi libertado no fundo do mar, nas dorsais no meio dos oceanos, à medida que se formava uma nova crosta oceânica.

Pensa-se que a Lua se formou numa grande colisão da Terra com um objecto do tamanho de Marte, há 4500 milhões de anos, o que ejectou para a órbita terrestre a imensa quantidade de detritos de onde nasceria o nosso satélite natural. Assim, este artigo revela ainda que esse acontecimento cataclísmico não vaporizou toda a água lunar.

100 milhões de anos

E, para mais, dá ainda pistas sobre a água na própria Terra: "A água estava presente no interior da Terra antes da gigantesca colisão que formou a Lua", diz Saal, citado num comunicado da sua instituição. "Isto aponta para duas possibilidades: ou a água da Terra não foi completamente vaporizada nessa colisão ou foi adicionada mais tarde - cerca de 100 milhões de anos depois - por elementos voláteis vindos do exterior, como meteoritos."


Seja como for, se a missão da Lunar Reconnaissance Orbiter descobrir água num dos pólos lunares, a sua origem estará desvendada e os planos de construção de uma base humana na Lua ganharão outro impulso.

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