Torne-se perito

Mais de metade dos alunos do secundário recorrem a explicações no acesso ao superior

Famílias gastam em média 150 euros por mês com explicações. Investigadores da Universidade de Aveiro falam no risco de desigualdades sociais

a Perto de 60 por centro dos estudantes do 12º ano recorrem a explicações para melhorar os seus desempenhos escolares. A competição nos exames nacionais de acesso ao ensino superior é a principal razão destes números.As conclusões são de um grupo de investigadores da Universidade de Aveiro (UA) que, desde 2005, estuda o fenómeno. O projecto "Xplika" decorre há três anos; os resultados conhecidos partem da análise da relação dos alunos do 12º ano com as explicações em várias escolas públicas e do ensino profissional.
António Neto-Mendes, um dos investigadores, diz que as explicações já não fazem parte do "campeonato das dificuldades": "Tradicionalmente eram as dificuldades de aprendizagem e os baixos rendimentos escolares que explicavam o recurso às explicações." Hoje em dia "há um outro campeonato, o dos bons e muito bons alunos, que tem a ver com o acesso ao ensino superior e com os exames nacionais."

Multinacionais da explicaçãoNos agrupamentos de Ciências e Artes, há turmas onde mais de 90 por cento dos alunos recorre a apoio fora da escola. São alunos que querem aceder a cursos como Medicina e Arquitectura, "áreas em que a competitividade é mais acentuada e as notas estão inflacionadas", diz Neto-Mendes.
A Matemática é a disciplina mais procurada pelos estudantes. Seguem-se Química, Física e Geometria Descritiva. Por semana, os alunos passam, em média, sete horas com os explicadores; os custos mensais para as famílias andam à volta dos 150 euros.
Os custos são o principal problema detectado pelo estudo: "Os preços das explicações colocam em causa o acesso às explicações a famílias com mais baixos rendimentos". Estas famílias estão por isso sub-representadas em cursos como Medicina e Arquitectura. "Esta realidade devia preocupar os responsáveis políticos, em termos de equidade e justiça social".
O investigador rejeita contudo que o problema se deva a fragilidades no ensino público: "Não tem nada a ver com a qualidade do ensino. Há questões de poder de compra e de ostentação associados, já que os pais se esforçam por colocar os filhos nos melhores explicadores, não olhando a custos." De resto, os dados conhecidos apontam para que o recurso a explicações no ensino privado tenha "números semelhantes aos nas escolas públicas".
Neto-Mendes fala mesmo de um "sistema educativo na sombra" que está a atrair empresas multinacionais. Estas oferecem explicações, especialmente nas áreas das ciências e das línguas, contratando recém-licenciados nas áreas de ensino. Os números não são precisos, mas apontam para milhares de explicadores em todo o país e, muitas vezes, sem o conhecimento do Ministério da Educação, a quem é necessário pedir autorização para exercer a actividade.

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