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Sócrates mantém tabu sobre recandidatura e vê chumbada moção de censura do CDS-PP

a Sem nenhum tema dominante, o debate da moção de censura - chumbada, como se esperava, pelo PS e com abstenções de PSD, PCP e Os Verdes - andou à volta dos combustíveis, da contestação social e até dos objectivos da iniciativa do CDS-PP. E ressuscitou o tabu da candidatura de José Sócrates às próximas eleições legislativas.Só os 12 deputados do CDS-PP votaram favoravelmente esta terceira moção ao Governo que foi rejeitada, com 119 votos contra dos deputados do PS e 93 abstenções (72 deputados do PSD, 11 do PCP, sete do Bloco de Esquerda, dois do partido ecologista Os Verdes, além da deputada não inscrita Luísa Mesquita).
No tiro de partida do debate, o líder do CDS-PP, Paulo Portas, fez um balanço de três anos de Governo que ficou marcado por "sucessivos enganos": do aeroporto da Ota às leis orgânicas das forças de segurança ou à redução do défice feita "à custa do contribuinte". "Não foi o Estado que emagreceu, foi o contribuinte que pa-
gou", disse Portas, que só "por engano" diz ser possível uma nova maioria socialista.
Nos combustíveis, "o Governo está a cometer um erro grave", acusou, referindo que "há três anos pagava-se 69 cêntimos de imposto e hoje paga--se 83 cêntimos".
O primeiro-ministro José Sócrates acusou Portas de "puro oportunismo" ao argumentar com o preço dos
combustíveis. "Esta moção é a fingir porque se destina apenas a ganhar uns minutos nas televisões", disse Sócrates.
O preço dos combustíveis foi retomado pelo Bloco de Esquerda, pelo PCP e pelo grupo Os Verdes, que criticaram o relatório da Autoridade da Concorrência que concluiu não haver indícios de concertação de preços entre as gasolineiras. "Os portugueses sabem o que é liberalização [dos preços]: estão de mãos atadas e o Governo lavou as suas", disse a deputada bloquista Ana Drago. Sócrates sublinhou a independência da Autoridade da Concorrência e mais uma vez rejeitou regular os preços dos combustíveis.
O deputado social-democrata Hugo Velosa, em substituição do líder demissionário Santana Lopes - que não interveio e só esteve na bancada na parte final do debate -, desafiou Sócrates a dizer como vai enfrentar a crise económica. Agostinho Lopes, do PCP, pediu "medidas para os agricultores, para a pequena camionagem, para os táxis e reboques".
Em defesa das opções do Governo, o primeiro-ministro referiu os resultados do défice e a criação de mais 97 mil empregos, mas reconheceu que o Governo teve que ajustar as suas previsões económicas devido ao preço do petróleo e à crise do subprime.
Perante uma bateria de perguntas de deputados do CDS-PP sobre vários temas - IVA, privatizações, ASAE, desemprego, pensões, segurança, saúde, reserva alimentar -, o primeiro-ministro refugiou-se na discussão sobre a oportunidade da moção de censura, recuando até à anterior legislatura.
Sócrates acusou Paulo Portas de ter mudado de opinião por ter defendido, enquanto ministro, que a moção de censura tinha como único fim derrubar o Governo. "O PS tinha uma razão forte [para ter apoiado uma moção em 2003], era a guerra no Iraque", frisou Sócrates.
Este regresso a 2003 seria notado pelo líder parlamentar do CDS-PP, Diogo Feio, que fez as contas: durante as suas intervenções no Parlamento na actual legislatura o primeiro-ministro utilizou o argumento do passado 455 vezes.
Seria Portas a projectar o futuro ao desafiar Sócrates a dizer se é ou não candidato a primeiro-ministro em 2009. "Há congressos nos partidos democráticos para escolher os candidatos. Nessa altura, em Fevereiro de 2009, o PS escolherá", respondeu Sócrates, que considerou a pergunta vinda mais de um analista do que de um político.
Para o dirigente do PCP, "a moção de censura do CDS já deu jeito ao Governo. Já permitiu uma encenação de discurso de esquerda para justificar a continuação de uma política de direita". O PS, pela voz de Alberto Martins, fez um paralelo da moção com a literatura: "É a crónica de uma morte anunciada."

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