Musicólogo Rui Vieira Nery abandona Serviço de Música da Fundação Gulbenkian

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Rui Vieira Nery era visto como o mais provável sucessor do atual director do Serviço de Música Bruno Castanheira

O musicólogo Rui Vieira Nery vai dirigir o Programa Gulbenkian Educação para a Cultura, abandonando o Serviço de Música da instituição, onde exercia as funções de director adjunto de Luís Pereira Leal.

Nery, ex-secretário de Estado da Cultura (1995-7) e docente universitário, era visto no meio musical como o mais provável sucessor de Pereira Leal, actualmente com 71 anos e que está no cargo desde 1978. Mas a administração da fundação, presidida por Rui Vilar, decidiu submeter o lugar a um concurso internacional. Para o efeito, foi contratada a empresa Egon Zehnder, que colocou anúncios em Portugal e no estrangeiro.

O concurso, cujo resultado deve ser conhecido dentro de um mês, aproxima-se da fase final, em que os quatro primeiros classificados serão entrevistados por um júri da fundação. A administradora com o pelouro da Música, Teresa Gouveia, mostrou-se indisponível para falar sobre estas mudanças.

Um anúncio publicado pelo Expresso, em Fevereiro passado, indicava que o candidato deveria ter entre 30 e 50 anos e "capacidade para conceber e organizar uma temporada anual de características internacionais e para desenvolver e projectar internacionalmente a orquestra".

Esta continuidade da "projecção externa da orquestra", a atracção das camadas mais novas e a renovação em geral dos públicos constituem traços marcantes do perfil do novo director, que deverá mostrar-se "um substituto à altura de Pereira Leal" e "garantir a qualidade" da programação actual, disse a porta-voz da Gulbenkian, Elisabete Caramelo.

Se a decisão da administração indicia uma vontade de renovar métodos de recrutamento, parece indicar também, contudo, que tem ideias diferentes daquelas que prevalecem entre os elementos da estrutura actual (de que faz parte ainda Miguel Sobral Cid, também director adjunto, desde 1995), disseram ao PÚBLICO fontes externas à instituição.

Não são de esperar, contudo, profundas alterações no Serviço de Música, que há dois anos alargou a orquestra de 60 para 66 músicos permanentes e, mais recentemente, viu ser reconduzido o maestro titular, Lawrence Foster.

A margem de variação numa estrutura destas é relativamente restrita porque, na realidade, a maior parte do orçamento da direcção é gasta na orquestra, dizem conhecedores do Serviço de Música, chamando a atenção para o facto de as duas próximas temporadas já terem que estar delineadas, se não definidas neste momento, o que limita fortemente a iniciativa de um novo director.

Mas "não faria sentido mexer na casa para ficar tudo na mesma", contrapõe fonte da Gulbenkian, sob a condição de anonimato, apontando algumas opções possíveis dentro dos constrangimentos orçamentais: "Mais ou menos música clássica e romântica? Mais ou menos música antiga? Mais ou menos jazz?".

O Serviço de Música é a estrutura operacional da Fundação Gulbenkian cujas actividades apresentam os mais altos custos directos. A programação de cada temporada musical constitui a mais importante realização musical regular no país pela excelência e diversificação de repertórios, maestros, solistas, orquestras e agrupamentos - 128 concertos na temporada 2006/2007, que assinalou os 50 anos da aprovação dos estatutos da fundação.

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