Bombas de fragmentação matam de meia em meia hora e 109 países querem eliminá-las

Fórum em Dublin prepara um tratado internacional vinculativo que está a ser acolhido com reservas pelos países produtores deste tipo de armamento

a As bombas de fragmentação têm uma área de alcance equivalente à de um campo de futebol. E matam uma pessoa em cada meia hora que passa. Do fórum que reúne representantes de 109 países durante duas semanas em Dublin deverá sair a versão final de um tratado internacional vinculativo que proíba a produção, utilização e distribuição destas bombas.Governantes e diplomatas, organizações da sociedade civil, militares, peritos em desminagem e ainda sobreviventes das bombas de fragmentação chegaram ontem à capital irlandesa para continuar as conversações no sentido de vincular os Estados a abandonarem aquele armamento.
Ao contrário das minas antipessoais, as granadas de fragmentação "são usadas em conflitos de maior dimensão", levados a cabo por actores "mais organizados, com mais capacidade tecnológica e com um certo grau de civilização", ou seja, por Estados, principalmente ocidentais, ou forças paramilitares por estes financiados, compara o presidente da Cruz Vermelha Portuguesa. Ao PÚBLICO, Luís Barbosa sublinhou que isto faz com que sejam "mais fáceis de eliminar": basta existir vontade política.
Segundo Luís Barbosa, as armas de fragmentação são usadas há menos tempo do que as minas, mas as organizações que trabalham no terreno têm tido que se confrontar "crescentemente" com elas . Isso mesmo disse Pedro Krupenski, director da secção portuguesa da Amnistia Internacional, ao PÚBLICO: "São de mais fácil colocação e têm efeitos maiores."
Ameaça para os civis
Largadas por via aérea ou terrestre, estas 650 minibombas dentro de uma grande bomba podem rebentar no impacto ou mais tarde. É fácil confundi-las com rações alimentares ou brinquedos. Portanto, são particularmente mortíferas para os civis.
Os principais produtores de munições têm manifestado reservas contra a aprovação do tratado internacional. Alguns, como o Reino Unido, a França, a Alemanha e o Japão, pedem um período de transição ou um regime de excepção. Outros, como os Estados Unidos (que detêm entre 700 a 800 milhões de bombas de fragmentação, segundo a Handicap International), Rússia, China, Índia, Paquistão e Israel pura e simplesmente opõem-se e nem sequer compareceram ao encontro de Dublin.
Se da reunião internacional, na qual Portugal se faz representar pelo embaixador José Júlio Pereira Gomes, resultar um tratado, será o passo mais sério no caminho do desarmamento desde a Convenção de Otava, que há dez anos proibiu o uso das minas antipessoais.
A Declaração de Wellington, aprovada a 22 de Fevereiro por 82 países (entre os quais Portugal), abriu a porta à pressão para erradicar as bombas de fragmentação, prestar assistência às vítimas e limpar as áreas contaminadas por estas munições, usadas no Kosovo, Afeganistão, Líbano e Iraque.
Ontem, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, usou o vídeo para apelar aos países a serem "audazes e visionários". Já na véspera, o Papa Bento XVI tinha lançado o mesmo repto, esperando um "acordo internacional forte e credível".

Reino Unido, França, Alemanha e Japão pedem um período de transição ou um regime de excepção

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