Torne-se perito

"Óscar da Web" para o homem que gozou com o Google e a Wikipédia

Podem não ter o glamour ou a popularidade dos Óscares, mas os Webby Awards
são o mais importante galardão no mundo da Internet

a No dia 10 de Junho, numa cerimónia que ocorre durante a semana que a cidade de Nova Iorque dedica à Internet, o comediante americano Stephen Colbert deverá subir ao palco para receber a estatueta dos chamados Óscares da Web (em vez da famosa figura dourada, os premiados com um Webby recebem uma espiral prateada) e consagrar-se como Pessoa do Ano no mundo da Internet.O galardão foi atribuído a Colbert - que tem um programa televisivo de sátira política onde encarna a personagem de um apresentador narcísico - pela "forma inovadora como usou a Internet para interagir com os fãs": enganou o Google, gozou com a Wikipedia e bateu em popularidade online os candidatos presidenciais.
Desde 1997 que os Webby atribuem distinções em quatro grandes áreas: sites, publicidade interactiva, filmes online e sites para telemóveis. Para além disto, há prémios especiais, como o de Colbert. Cada área está divida em várias categorias, para as quais existem sempre dois premiados: um é escolhido pelo júri e o outro é uma decisão do público, que pode votar online. A iniciativa é organizada pela Academia Internacional das Artes e Ciências Digitais, de que fazem parte dezenas de personalidades interessadas em promover o uso da Internet - do músico David Bowie ao realizador Francis Ford Coppola, passando pelo "pai" da Internet, Vint Cerf, e pelo criador dos Simpsons, Matt Groening.
Um dos feitos que fez Colbert merecer o prémio desta academia foi a criação de uma "bomba" no Google. Trata-se de uma técnica que permite a um site ser o primeiro resultado nas páginas deste motor de busca quando se introduz uma frase específica.
Uma das "bombas" mais conhecidas é a que devolvia a biografia de George W. Bush como resultado da pesquisa miserable failure (fracasso miserável). A "bomba" de Colbert dava o site oficial do comediante como primeiro resultado para quem pesquisasse greatest living american - o maior americano vivo. O feito foi conseguido graças aos links criados em sites e blogues de milhares de fãs para aquela página. Mas, tal como aconteceu no caso de Bush, o Google já corrigiu a situação.
Esta não foi, contudo, a única ciberproeza de Colbert. Já antes tinha atacado a credibilidade da Wikipedia, alterando páginas durante o seu programa na televisão e inserindo dados falsos, ao mesmo tempo que apelava a que os espectadores modificassem a informação relativa à ameaça de extinção dos elefantes. A Wikipedia teve problemas em lidar com a afluência de visitantes e o site chegou a estar em baixo.
Já no final do ano, Stephen Colbert deu na Web nova mostra da sua popularidade. Após ter anunciado uma candidatura fictícia à presidência dos EUA (em que seria candidato nas primárias tanto pelos Democratas como pelos Republicanos), houve fãs que resolveram criar um grupo de apoio no Facebook, uma das redes sociais online mais populares em todo o mundo e onde os verdadeiros candidatos também marcam presença. A um ritmo de 78 novos apoiantes por minuto neste site, Colbert progredia a uma velocidade muito superior à de Hillary Clinton ou Barack Obama.
Segredos para todos lerem
Entre os vencedores dos Webby estão alguns nomes conhecidos, como o New York Times (que arrecadou oito distinções, incluindo a de melhor site noticioso), a National Geographic, a BBC ou a Apple. Mas há também sites pouco conhecidos e menos convencionais. Um dos galardoados (também já distinguido em edições anteriores) é o Post Secret, um blogue que semanalmente revela os segredos de várias pessoas e que foi considerado o melhor blogue cultural.
Online desde 2004, o Post Secret pede às pessoas que enviem postais feitos em casa onde revelem um qualquer segredo: traições conjugais, desejos íntimos, medos ou manias. Todos os domingos, são publicados anonimamente os postais enviados.
O objectivo do Post Secret, que começou como um projecto artístico, é ser "um espaço seguro, livre de juízos de valor, onde qualquer pessoa possa revelar os segredos que nunca contaria a ninguém", explica o fundador, Frank Warren.
Warren, um americano de 44 anos, dedica-se agora a compilar alguns dos postais recebidos em livro (já há quatro edições) e a dar palestras sobre o assunto - duas actividades com as quais ganha dinheiro. Mas faz questão de não colocar publicidade no site: "O Post Secret seria muito mais rentável se tivesse anúncios. É o maior blogue do mundo sem anúncios. Mas acho que há valores mais altos do que rentabilizar os visitantes".
O blogue tem versões em francês, alemão e espanhol, que surgiram por iniciativa dos visitantes da versão original, conta Warren. "Pessoas de outros países preguntaram-me se podiam replicar o projecto noutra língua. Os segredos são uma coisa universal".
Microcrédito ao clique
Algumas contribuições de poucas dezenas de dólares podem bastar para um empreendedor num país em vias de desenvolvimento criar um negócio viável - e pagar o dinheiro que lhe foi emprestado. É este o conceito do Kiva, um site de microcrédito, que foi a escolha do público para melhor projecto na categoria de caridade e organizações não lucrativas.
O espaço oferece uma lista de projectos que é possível apoiar. A maioria pede dinheiro para lançar ou manter pequenas lojas, para negócios de venda ambulante ou para desenvolver actividades agrícolas. O Kiva trabalha em parceria com organizações locais para fazer chegar os empréstimos a estes empreendedores. Quase todos devolvem o dinheiro.

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