Torne-se perito

O elogio do homem e da natureza

O pensamento de Jean-Jacques Rousseau influenciou não só o trabalho de filósofos posteriores, como a própria Revolução Francesa. Na sua perspectiva, o homem só é bom num estado de natureza. A sociedade corrompe-o

"Considero que os homens atingiram aquele ponto em que os obstáculos que prejudicam a sua conservação no estado de natureza levam a melhor, pela resistência, sobre as forças que cada indivíduo pode empregar para se manter neste estado. Então esse estado primitivo já não pode subsistir e o género humano pereceria se não modificasse a sua maneira de ser.Ora, como os homens não podem engendrar novas forças, mas somente unir e dirigir as que existem, não dispõem de outro meio para se conservar que não seja o de formarem, por agregação, uma soma de forças que possa levá-los a vencer a resistência, de as porem em jogo e de fazer que elas actuem concordantemente.
Esta soma de forças só pode nascer da contribuição de vários: mas, dado que a força e a liberdade de cada homem constituem os primeiros instrumentos de conservação, como é que ele os fará actuar sem se prejudicar e sem negligenciar os cuidados que deve a si próprio? Esta dificuldade, encarada dentro do tema que trato, pode enunciar-se nestes termos:
"Encontrar uma forma de associação que defenda e proteja com toda a força comum a pessoa e os bens de cada associado e pela qual cada um, unindo-se a todos, não obedeça, contudo, senão a si mesmo e permaneça tão livre como antes." É este o problema fundamental de que o contrato social dá a solução."

a Considerado um dos mais influentes pensadores do século XVIII, o filósofo e compositor Jean-Jacques Rousseau é associado à Revolução Francesa e ao desenvolvimento das teorias liberal e socialista. Em vida, dedicou-se sobretudo à escrita, publicando ensaios, estudos musicais e peças de teatro.
Natural de Genebra, Rousseau teve uma infância difícil, onde a educação se resumiu a leituras de Plutarco e sermões calvinistas. Mais tarde, especializou-se em latim e, já em Paris, tornou-se próximo de Diderot, contribuindo a partir de 1749 para a sua Enciclopédia.
Foi também nessa altura, durante uma visita à prisão onde se encontrava Diderot, que Rousseau leu um artigo no periódico Mercure de France sobre um concurso patrocinado pela Academia de Dijon. Os participantes deveriam responder, sob a forma de ensaio, se o desenvolvimento das artes e das ciências havia sido moralmente benéfico. Com o Discurso sobre as Ciências e as Artes (1750), Rousseau argumentou que a resposta era negativa e mereceu a distinção máxima da Academia.
Graças a este primeiro discurso, onde defendia que as ciências e as artes tinham causado a corrupção da virtude e da moralidade, Jean-Jacques Rousseau tornou-se famoso e reconhecido pelos seus pares. Além disso, permitiu-lhe estabelecer os princípios filosóficos do seu segundo trabalho, Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens (1754), que consolidou o seu estatuto de figura intelectual de relevo. Nessa obra, explicava como a humanidade havia progredido e degenerado de um primitivo estado de natureza na sociedade moderna.
Com efeito, Rousseau acreditava que existia uma divisão fundamental entre a sociedade e a natureza humana. Na sua opinião, o homem era bom no estado de natureza (a condição da humanidade antes da criação da civilização), mas corrupto pela sociedade. Esta ideia levou a que a noção de "bom selvagem" fosse atribuída ao filósofo de Genebra mas, na verdade, nunca foi utilizada nas suas obras. Aliás, na sua perspectiva, destaca-se sobretudo a ideia de que a sociedade é artificial e o seu desenvolvimento (com a crescente interdependência social) é contrário ao bem-estar do ser humano.
Segundo Rousseau, a influência negativa da sociedade gera, nos homens, a transformação do amour de soi (fundamento do amor pelos outros) no amor-próprio. Enquanto o primeiro representa o desejo instintivo de preservação, o segundo é um sentimento que leva o homem a comparar-se com os outros, gerando o medo e o prazer no sofrimento alheio.
Entre as suas principais obras, encontram-se ainda Emílio e O Contrato Social, ambas publicadas em 1762, gerando grande controvérsia em Paris. O Contrato Social é, de resto, um dos mais importantes escritos de filosofia política na tradição ocidental. Por outro lado, com as Confissões (1770), Rousseau apresentou uma nova forma de construção da subjectividade, que esteve na origem da autobiografia moderna e influenciou o trabalho de pensadores como Hegel e Freud. Em último lugar, salienta-se também o importante papel do pensador genebrino na teoria moderna da educação.

1712 - Jean-Jacques Rousseau nasce a 28 de Junho em Genebra (na época independente, hoje parte da Suíça). É filho dos protestantes Isaac Rousseau e Suzanne Bernard, que morre nove dias depois.
1719 - Com a ajuda do pai, Jean-Jacques começa a ler.
1722 - Isaac deixa Genebra e o filho fica na casa do pastor Lambercier, na localidade próxima de Bossey.
1725 - Inicia o ofício de gravador junto de Abel du Commen.
1728 - Parte para Annency e conhece a viúva Madame De Warens. Converte-se ao catolicismo e trabalha como músico na capela da catedral.
1731 - Primeira estadia em Paris.
1742 - Volta a Paris e apresenta o seu processo de notação musical à Academia das Ciências.
1745 - Relaciona-se com Thérèse Levasseur. O primeiro de cinco filhos do casal nasce um ano depois.
1754 - Em Genebra, volta a aderir ao calvinismo.
1755 - Escreve o romance A Nova Heloísa.
1766 - Parte para Londres com David Hume.
1778 - Morre a 2 de Julho.
1794 - Os seus restos mortais são transladados para o Panteão francês.

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