Chumbos no básico e secundário custam mais de 600 milhões de euros por ano

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A matemática é das disciplinas a que os alunos mais têm dificuldades Miguel Madeira

Sem apresentar estimativas globais para o impacto económico que o insucesso escolar tem, o exemplo foi dado pela ministra da Educação: "Se o Estado gasta por ano três mil euros com um aluno, quando ele repete vai custar seis mil no ano seguinte". Ou seja, contabilizando os cerca de 170 mil que chumbaram em 2006/2007 (100 mil no básico e 70 mil no secundário) e multiplicando pelo custo por aluno, chega-se a um valor superior a 600 milhões de euros.

Estas contas são feitas pelo PÚBLICO a partir do valor de 3700 euros que, em 2004/2005, o Estado pagou para financiar integralmente a frequência de cada aluno em escolas privadas localizadas em sítios onde não há oferta pública (através dos contratos de associação).

"Se, ao fim de três anos, o aluno ainda abandona a escola, então o país acaba por ter no final um gasto que não serviu", sublinhou ontem a ministra Maria de Lurdes Rodrigues, em declarações aos jornalistas, a propósito do ensino da Matemática e da conferência internacional sobre o ensino da disciplina, que decorrerá em Lisboa, na próxima semana.

O encontro reunirá peritos nacionais e estrangeiros e servirá para fazer a avaliação das medidas tomadas ao longo dos últimos três anos para melhorar os resultados a uma das disciplinas que mais dificuldades causam aos alunos portugueses. "Será também um momento de prospectiva, para verificar que outras medidas são necessárias", explicou a ministra.

O que não é necessário, considera Maria de Lurdes Rodrigues, é continuar a ter taxas de insucesso sem paralelo no espaço da OCDE - aos 15 anos, só Espanha e Luxemburgo apresentam taxas de repetências comparáveis a Portugal -, cuja eficácia é posta em causa pelo facto de que quem fica retido frequentemente volta a chumbar. "Os sistemas de ensino moderno tentaram substituir um sistema chamado "chumbo" por outros instrumentos chamados "mais trabalho". É isso que precisamos de fazer nas nossas escolas: substituir este instrumento que não tem um objectivo de recuperação", defendeu Maria de Lurdes Rodrigues. "O objectivo actual é proporcionar a todos os alunos, sem excepção, a escolaridade básica de nove anos." E o chumbo, que foi introduzido quando o sistema educativo se organizava para seleccionar e separar, "não é adequado a este objectivo", reforçou.

O exemplo finlandês

Para a ministra, a solução passa pela "identificação precoce das dificuldades" e pela diversificação de estratégias de recuperação, num trabalho que tem de ser feito por toda a escola. Maria de Lurdes Rodrigues rejeita ainda a ideia de que este princípio corresponda a qualquer tipo de "facilitismo": "Facilitismo é chumbar. Rigor e exigência é fazer com que todos aprendam".

Num relatório recente da OCDE, intitulado No More Failures: Ten Steps in Education e ontem distribuído na conferência de imprensa, apoiam-se os argumentos da ministra. "Apesar de a repetência ser frequentemente utilizada pelos professores, faltam provas de que as crianças ganhem com isso. A retenção é cara - o custo económico global vai até aos 20 mil dólares [13 mil euros] por cada aluno que chumba um ano -, mas as escolas são pouco incentivadas a ter em conta os custos envolvidos", lê-se no documento.

Os peritos da OCDE referem o Luxemburgo como um dos países que estão a tomar medidas para reduzir as taxas de insucesso e apontam o caso finlandês, onde os chumbos são absolutamente residuais, como exemplo a seguir. "A Finlândia recorre a um conjunto de intervenções formais e informais para ajudar quem está a ficar para trás na escola. Esta abordagem parece ser bem sucedida." A OCDE diz mesmo que "muitos países podiam seguir" esta estratégia de "sucesso", recomendando ainda o apoio aos professores no desenvolvimento de técnicas de recuperação dos alunos.

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