Marido de Isabel dos Santos na administração da Amorim Energia
Nascido na República Democrática do Congo e filho de um dos milionários deste país, Sindika Dokolo ocupa o cargo na Amorim Energia ao lado de representantes de grandes accionistas, como a angolana Sonangol, Caixa Galicia e o próprio Américo Amorim.
Contactado pelo PÚBLICO, no sentido de saber se a presença de Sindika Dokolo reflecte, ou não, uma participação accionista sua ou de Isabel dos Santos (sócia de Américo Amorim em outros negócios), o departamento de comunicação do empresário confirmou apenas que este é "administrador da Amorim Energia desde o início do investimento", no ano de 2006.
Além de Américo Amorim, e de Sindika Dokolo, têm assento no conselho de administração da Amorim Energia nomes como o de Mateus de Brito, vice-presidente da petrolífera estatal angolana Sonangol, José Alvarez Sanchez, responsável legal da Caixa Galicia, José Neto, presidente da Investimentos Ibéricos, e Carlos Gomes da Silva, actual administrador não executivo da Galp (e ex-responsável da Unicer), indicado pelo empresário nortenho. Todos estes nomes reflectem os interesses económicos e financeiros ligados à holding Amorim Energia através de várias empresas (ver infografia nestas páginas).
Entre as sociedades envolvidas, a que tem menor participação é a Oil Investments, com cinco por cento, detida, segundo o departamento de comunicação do empresário nortenho, a 100 por cento pelo grupo Américo Amorim. A Oil Investments, sedeada também na Holanda, tem uma ligação em pequena escala com a Galp Energia, ao contrário do que sucede com a Sonangol. Esta, por via indirecta, detém cerca de 15 por cento da petrolífera portuguesa (onde o Estado ainda controla oito por cento do capital). Outro accionista de relevo, como é o caso da Caixa Galicia, não passa dos 4,5 por cento.
A nomeação de Sindika Dokolo para o conselho de administração da Amorim Energia ocorreu em Abril de 2006, ano em que se intensificaram os negócios entre Américo Amorim e Isabel dos Santos. No final desse ano, os dois entraram no capital da Nova Cimangola, através da empresa Ciminvest e em substituição da Cimpor, que saiu deste mercado em ruptura com as autoridades locais.
No capital da cimenteira angolana está, além do Estado, o Banco Africano de Investimentos (BAI), onde a Sonangol é accionista de referência. O presidente da petrolífera estatal angolana, Manuel Vicente, além de administrador não executivo da Galp Energia (ver texto ao lado), é também um dos gestores ligados à Unitel, empresa de telecomunicações angolana onde a PT tem uma participação, tal como Isabel dos Santos.
Estes negócios acabam por beneficiar também o empresário Sindika Dokolo, com quem Isabel dos Santos se casou há cerca de cinco anos. Conhecido pela sua colecção de arte africana contemporânea, herdou os negócios do pai, Sanu Dokolo, fundador do Banco de Kinshasa, e que esteve no centro de um alegado desfalque nos anos 1980. Encontrando-se a residir em Luanda, Sindika Dokolo, além de investimentos no Congo, tem vários negócios neste país, como a Amigotel, empresa retalhista de telecomunicações com relações comerciais com a Unitel.
Relações na bancaMais conhecida publicamente é a relação de parceria entre a filha do presidente angolano Isabel dos Santos e o empresário português Américo Amorim no sector da banca. Ambos têm 25 por cento do Banco Internacional de Crédito (BIC), estando o restante nas mãos de vários accionistas, como Fernando Teles (presidente, com 20 por cento), José Vaz (dez por cento), Luís Santos (cinco por cento), Manuel Fernandes (cinco por cento) e Sebastião Lavrador, ex-governador do Banco Nacional de Angola (cinco por cento).
A instituição financeira, criada em 2005, tornou-se rapidamente na segunda maior empresa deste sector em Angola (após o Banco Fomento de Angola, do português BPI). Em Maio do ano passado tinha já 67 balcões comerciais. No próximo mês, o Banco Internacional de Crédito deverá iniciar formalmente as suas operações em Portugal, onde é representado pelo ex-ministro Luís Mira Amaral, com a estratégia de captar os fluxos financeiros entre os dois países.
Caixa Galicia já alienou participação directaNa assembleia geral do próximo dia 6 de Maio haverá várias diferenças face ao encontro de accionistas ocorrido no ano passado, a primeira vez que a Galp Energia se reuniu nestes termos enquanto sociedade aberta.
A Caixa Galicia já vendeu, na totalidade, os três por cento que detinha directamente na petrolífera. Segundo confirmou ao PÚBLICO fonte oficial desta instituição, a alienação ocorreu entre Outubro e Novembro de 2007. A venda terá significado uma mais-valia significativa, já que nesse ano os títulos da empresa subiram cerca de 165 por cento. A Caixa Galicia mantém, no entanto, os 4,5 por cento detidos de forma indirecta através da Investimentos Ibéricos.
De resto, também a Iberdrola e o BPI venderam as suas posições. A primeira, liderada em Portugal por Joaquim Pina Moura, alienou no final de Janeiro de 2007, a investidores institucionais e fora do mercado, os 3,8 por cento que detinha. A renúncia ao cargo de membro do conselho de administração ocorreu apenas em Março deste ano. No caso do BPI, a instituição financeira desceu a participação directa para menos de dois por cento no início deste ano, tendo depois vendido a totalidade das acções.
Quem permanece imutável são os dois grandes blocos accionistas, Amorim Energia e os italianos da ENI, ambos com 33,34 por cento. O Estado tenta ser o ponto de equilíbrio através dos sete por cento da Parpública e do um por cento, com direitos especiais, da Caixa Geral de Depósitos.
Assim, cerca de 25 por cento das acções da Galp Energia estão em free float no mercado de capitais. Segundo o relatório e contas de 2007, a maioria parte das instituições e particulares que investiram na petrolífera estão localizados em Portugal (31 por cento), seguindo-se França, Reino Unido, Espanha e EUA.