Mário Machado afirma em julgamento que não se considera racista
Mário Machado, apontado como líder do movimento Portuguese Hammerskins, começou esta manhã a ser ouvido pelo colectivo de juízes responsável pelo processo, presidido por João Felgar.
Ao tribunal explicou que o conceito de racialismo que aparece em algumas mensagens da Frente Nacional "é diferente do racismo", porque a primeira defende o orgulho de uma raça (que até pode ser negra) e o segundo significa "o ódio por outra raça".
Segundo Mário Machado, o racialismo "não impõe supremacia de uma raça sobre outra", nem em termos de "inteligência" ou de "aspectos físicos", dizendo que ele próprio "conhece negros que são melhores pessoas e mais inteligentes do que brancos". "Nunca me considerei racista. Não tenho qualquer ódio primário à raça negra, mas tenho orgulho em ser branco", reforçou em defesa do movimento nacionalista, acrescentando que também no PS e PSD haverá "pessoas racistas, mas não é isso que faz deles partidos racistas".
O arguido admitiu, porém, ter "forte convicção" de que "há a propensão da raça negra para o crime", designadamente em Portugal, alegando que isso é "visível" na própria cadeia em que está preso, onde "só cerca de 25 por cento" dos detidos são brancos.
Machado lembra declarações de JardimMário Machado criticou ainda a dualidade de critérios do Ministério Público quando as afirmações polémicas são feitas por outros quadrantes políticos. Para tal deu como exemplo o presidente do Governo Regional da Madeira, Alberto João Jardim, que publicamente afirmou que não queria chineses e indianos na Madeira, uma posição que arguido sublinhou não ter suscitado qualquer intervenção por parte do Ministério Público.
Durante a sua audição, Mário Machado condenou os elementos "skinheads" que atacam e danificam cemitérios judeus ou sinagogas, apelidando-os de "nazis de Hollywood", admitindo que dentro do movimento "skinhead" existe o problema de impedir a entrada de pessoas que, por qualquer trauma, querem praticar a violência.
"Não há problemas que se resolvam com a violência", disse o arguido, justificando que os simpatizantes do movimento têm sido incentivados a colar cartazes, a realizar conferências e a "fazer o jogo da democracia", porque um dos objectivos é obter representação parlamentar, através de Pinto Coelho, dirigente do Partido Nacional Renovador (PNR).
Mário Machado defendeu, porém, que os nacionalistas "devem comprar armas", desde que por meios legais, invocando o "direito de auto-defesa" e serem o "último baluarte", num mundo cheio de ameaças e guerras entre facções e grupos.
Confrontado pelo juiz João Felgar com uma mensagem dos nacionalistas num site de que "os activistas de rua deveriam levar os paus", o arguido contrapôs que se tratou de "um apelo às armas em sentido figurado", apelando apenas à mobilização, pois na respectiva concentração em Coruche a GNR "não encontrou quaisquer paus" ou armas. "Admito que foi um uma expressão infeliz", disse.
Confrontado com outras mensagens divulgadas pelos meios electrónicos a apelar à violência inter-étnica, Mário Machado explicou as dificuldades de controlar um fórum de ideias na Internet, que é de livre acesso.
Socorrendo-se de declarações públicas do comentador político Pacheco Pereira e do bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto, o arguido reiterou no julgamento a ideia de que o seu processo tem contornos políticos, declarando-se "satisfeito" por saber que a maioria das pessoas o considera um "preso político".
O juiz João Felgar reconheceu que "a amplitude que foi dada às declarações do arguido neste processo não é comum nos tribunais portugueses", justificando a opção: "Neste caso, dada a amplitude de referências ideológicas, a possibilidade de falar deve ser igualmente ampla".
O julgamento dos 36 arguidos prossegue amanhã à tarde.