“La Strada” salta do cinema para o teatro

Foto
DR

Pelo olhar neo-realista de Fellini, é contada a história de dois saltimbancos que procuram a sua sorte numa Itália decandente do pós II Guerra: Gelsomina, uma ingénua rapariga, e Zampano, frio e calculista. Pelo meio, surge o “Louco”, um palhaço-equilibrista-filósofo, que acaba por ser morto por Zampano. Uma história que parte da vida difiícil de três artistas, para chegar à definição do homem contemporâneo, individualista, frágil e sem sonhos.

O objectivo da companhia de teatro lisboeta foi transportar essa visão realista e crítica de Fellini para o palco, adaptando a história à sociedade actual. “A ideia principal foi voltar a contar a história de Fellini, fazer a nossa interpretação”, afirma a actriz e produtora Maria Dias. Para isso, foi necessário recriar as personagens, passando pela observação “das pessoas do quotidiano”, como “a velhinha que está à janela com um gato, a mulher de negócios, o empregado de café falador”, dá como exemplo a produtora.

A crítica social que o cineasta italiano pretendeu com “La strada” é perpetuado pela peça, ao dar destaque à situação precária dos artistas em Portugal: “Basicamente estamos na mesma situação que as personagens na peça: escassez de trabalho. Temos um trabalho hoje e amanhã não temos.”, descreve Maria Dias.

O uso das personagens-protótipo da sociedade portuguesa foram intenção primordial da companhia, para que “o público se reconheça nas personagens”, afirmou. Por isso, não foi em vão que a companhia de teatro escolheu lugares como o Plano B, o teatro Comuna, ou o Incrível bar em Almada para apresentar a peça. O objectivo foi eliminar a “quarta parede”, optando assim por salas de teatro menos convencionais, que possibilitassem essa interactividade.

O cenário escolhido também não foge aos moldes neo-realistas: marcado pelo despojamento e simplicidade, em prol de um forte trabalho de construção de personagens. A música é tocada ao vivo por Inês Mares, que interpreta a banda sonora original do filme, de Nino Rota. As melodias servem de fio condutor da peça,fazendo a ligação entre as cenas e as personagens.

Depois de ter estado no teatro Comuna, em Lisboa e na Fábrica da Pólvora em Barcarena, a adaptação do filme “La strada” de Fellini ao teatro segue agora para o Porto, no Plano B. A peça será ainda representada na Tertúlia Castelense, na Maia, no teatro Sá Miranda, em Viana do Castelo, no Teatro Reflexo, em Sintra, e por fim passará pelo Teatro Viriato, em Viseu.

Sugerir correcção
Comentar