Museu do Barro no Redondo para manter viva a tradição

A arte milenar será exposta num antigo convento que a autarquia está a recuperar, prevendo-se que possa abrir já no Verão e o investimento ronda os 600 mil euros

Em 1516, já o foral manuelino da vila mencionava uma corporação de oleiros e regulamentava o seu comércio. Dedicavam-se ao fabrico de peças de barro vermelho para uso doméstico: panelas, frigideiras, quartas, cântaros, infusas, e contentores para o armazenamento do vinho e do azeite. Hoje, todos conhecem a "louça do Redondo", criação posterior à fase da expansão das unidades industriais de louça de faiança, criadas no âmbito das políticas pombalinas, na segunda metade do século XVIII. Recorrendo a materiais locais, os oleiros da região desenvolveram uma técnica que ao recobrir a pasta com uma calda de caulino, levemente amarelada, tornavam as peças um produto de qualidade semelhante à faiança. a Promover e preservar a tradição oleira milenar na vila de Redondo é o que pretende a câmara local com a construção de um Museu do Barro num antigo convento votado ao abandono. Inverter a tendência de redução do número de oleiros que se tem verificado nos últimos anos, estimulando os mais jovens para esta arte são outros dos objectivos deste novo espaço que deverá inaugurar, numa primeira fase, já neste Verão.
Segundo o vereador da Cultura, José Portel, o museu representará a história da olaria, assim como todo o processo evolutivo do barro até se transformar nas peças que o distinguem. Irá dispor de um importante espólio, constituído por algumas das mais representativas peças da olaria tradicional de Redondo que, pela sua antiguidade, constituem grande valor patrimonial, estando os oleiros da vila dispostos a contribuir com as suas peças para enriquecer e diversificar ainda mais todo o espólio.
Este novo espaço vai ficar instalado no antigo Convento de Santo António que está a ser recuperado pela Câmara do Redondo. José Portel explicou que da primeira fase do museu constará "a criação de uma galeria de exposições, relacionada com o barro, e uma loja para venda de peças". Posteriormente, numa segunda fase, o museu disporá de uma oficina, "em que os oleiros vão trabalhar para que todos possam observar o seu trabalho, e haverá também um espaço para acções de formação".
O investimento municipal deverá rondar os 600 mil euros, considerando a recuperação do antigo convento, e o equipamento para a instalação do núcleo museológico, "esperando que esteja concluído entre 2010 ou 2011", asseverou o vereador.
Serão expostas peças que vão desde a pré-história ao período clássico, resultantes das escavações arqueológicas efectuadas no concelho, até à loiça tosca e decorativa. Contudo, o mesmo responsável garantiu que haverá exposições permanentes e itinerantes.
Em Évora, a próxima exposição temporária do Centro de Artes Tradicionais/Antigo Museu do Artesanato vai arrancar com uma nova exposição sobre os barros da vila de Redondo, "de forma a projectar o museu que está a ser construído", avançou o presidente da Região de Turismo de Évora, João Andrade Santos. "Procurar-se-á que a atractividade dos concelhos à volta de Évora seja aqui suscitada", afirmou o dirigente, acrescentando que o que se pretende é que o visitante não encerre a visita neste centro: "Queremos abrir-lhe o apetite para ir mais longe, em particular ao local de onde é a exposição, neste caso à vila de Redondo".
Uma das oleiras que vai estar presente nesta exposição é Rosária Martelo, proprietária do atelier Martelo Júnior, nora e seguidora do mestre Adriano, que gostava de dizer que aprendeu a pintar sozinho, mas os seus trabalhos foram informados pela pesquisa que realizou desde a década de 50, junto aos oleiros mais idosos, para transformar-se num dos mais conhecidos mestres pintores da vila.
A oleira, que faz desta arte um hobby, assegurou que vai contribuir com as suas peças, mas lamenta "o pouco reconhecimento que os redondenses têm para com os oleiros, nomeadamente o poder local que nos poderia dar mais algum apoio".
A ideia é partilhada por João Mértola, de 74 anos, proprietário da Olaria Mértola. "Com apenas sete anos iniciei a aprendizagem nas olarias, trabalhei com quase todas as olarias do Redondo". Com esta idade, continua a fazer exposições por todo o país: "Fazendo com as minhas mãos tudo o que me sai da cabeça, mas sem a ajuda de ninguém." Afirmou que já fez projectos para ensinar pessoas, "mas ninguém quis", e adianta que a autarquia tem muita gente que podia pôr a aprender estes ofícios: "Tenho muita pena que assim seja, porque é uma arte que demora cerca de 20 anos a aprender e que se não tiver seguidores, morre."

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