Hipótese de novo planeta recebida com cautela por especialista português

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O suposto planeta terá cerca de metade da massa da Terra NASA

A hipótese da existência de mais um planeta no Sistema Solar, divulgada ontem no Japão, é encarada com interesse cauteloso por um astrónomo português especializado nesta área de investigação. Nuno Peixinho, que pertence ao Grupo de Astrofísica da Universidade de Coimbra, disse hoje que a teoria "não é perfeita", mas "é interessante e não pode ser rejeitada com base nos dados actuais da observação".

Este cientista trabalha actualmente no Instituto de Astronomia da Universidade do Havai (EUA), onde faz pós-doutoramento, tendo como área de especialização os pequenos corpos do Sistema Solar exterior, nomeadamente a Cintura de Kuiper, objectos trans-neptunianos, centauros, planetas anões exteriores e famílias associadas.

Também a fazer investigação pós-doutoral em Astronomia naquela universidade norte-americana está outro cientista português, Pedro Lacerda, igualmente do Grupo de Astrofísica da Universidade de Coimbra, que estuda em particular as propriedades físicas dos pequenos objectos do Sistema Solar.

Segundo Nuno Peixinho, a hipótese da existência de um planeta com cerca de metade da massa da Terra foi proposta pelo astrónomo brasileiro Patryk Sofia Lykawka, cujo trabalho conhece bem, em colaboração com o Professor japonês Tadashi Mukai (da Universidade de Kobe), seu orientador de tese, para explicar várias características já conhecidas da Cintura de Kuiper.

Esta "cintura" é uma região que circunda o Sistema Solar, para além da órbita de Neptuno, e que é habitada por centenas de milhar de objectos gelados, na sua maioria com tamanhos entre um e mil quilómetros de diâmetro, entre os quais se contam Plutão, descoberto em 1930, e Eris, ligeiramente maior e descoberto em 2005.

Na perspectiva de Lykawka, o suposto planeta terá cerca de metade da massa da Terra e a sua órbita será 100 vezes mais distante do Sol do que da Terra.

"Uma teoria só por si tem pouco valor científico até ser confirmada experimentalmente, e a teoria de Lykawka ainda terá de enfrentar os testes que ele próprio, corajosamente, propõe", diz Nuno Peixinho. Com efeito, o estudo contém uma lista de previsões que poderão ser testadas através de observações nas próximas décadas.

"Infelizmente", considera o astrónomo português, "as previsões não são suficientemente precisas para que se possa apontar um telescópio para um determinado sítio, como aconteceu com Neptuno em 1846, e se veja se o planeta está lá". Além disso, acrescenta, "mesmo na fase em que se encontra mais perto do Sol esse planeta brilhará menos que Plutão".

Segundo a teoria exposta ontem no Japão, o novo planeta corresponderia à nova definição adoptada em 2006 pela União Astronómica Internacional (UAI), que exclui Plutão da categoria de planeta de pleno direito do sistema Solar. O "planeta" estaria situado a 12 mil milhões de quilómetros da Terra e rodaria em torno do Sol numa órbita elíptica cada mil anos, num plano inclinado de 20 a 40 graus, segundo cálculos realizados a partir de efeitos gravitacionais observados em Neptuno.

O estudo, com a chancela de Tadashi Mukai, será publicado em Abril no Astronomical Journal, editado pela Sociedade Astronómica Americana.

Os oito planetas do Sistema Solar plenamente dignos desse nome são agora Mercúrio, Vénus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Neptuno. No entanto, o novo "planeta" poderá ganhar o lugar perdido por Plutão no Sistema Solar se existir de facto, se for suficientemente maciço para se manter esférico devido à sua própria gravidade e se mantiver a sua órbita limpa de outros pequenos objectos, admite Nuno Peixinho.

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