Juno

Poucas vezes acontece durante a projecção de "Juno" sentir que os diálogos, aforismos e situações não são mais do que o instrumento de uma argumentista à procura da imortabilidade com a "great american quote". (E deve ter conseguido algo, porque "Juno" é o "filme sensação", e outras coisas do género, à beira dos Óscares).

Nesse sentido, todas as personagens desta comédia em que uma adolescente (de cachimbo) engravida e decide entregar a criança para adopção a um casal de insuportáveis yuppies, mais se parecem bonecos que mexem a boca para a voz da argumentista. Lá se vai, portanto, o regozijo com o facto de estas personagens só serem adolescentes nas contingências porque na verdade "Juno" seria um filme sobre adultos - pudera!, a voz não é delas.

E lá se vai, também, a verosimilhança - aquele diálogo entre a jovem e o futuro pai (adoptivo) sobre o cinema de terror de Dario Argento pode dizer algo sobre a argumentista Diablo Cody (é o seu "show" de "strip", é ela a mostrar o que vale), mas é ridículo que com ele se pretenda dizer algo sobre as personagens: porque elas não falariam assim. É claro que a velocidade de choque contra o politicamente correcto (mas no final tudo é acolchoado) é hábil, e já que falamos disso temos que admitir que "Juno" tem a habilidade de aproveitar aquilo que se consegue hoje escrever para televisão e escrevê-lo para cinema. Mas é disso que se trata: de habilidade.

Portanto, um calculista "Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos".

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