Parlamento proclama declaração de independência do Kosovo

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Milhares de kosovares albaneses encheram as ruas de Pristina para aguardar o anúncio da independência Stoyan Nenov/Reuters

A declaração de independêndia do Kosovo da Sérvia foi hoje aprovada pelo Parlamento kosovar, depois do projecto da proclamação ter sido apresentado pelo primeiro-ministro Hashim Thaçi. O anúncio formal da votação foi recebido nas ruas de Pristina com celebrações de dezenas de milhares de pessoas.

“Nós, os líderes do nosso povo, eleitos democraticamente, através desta declaração proclamamos o Kosovo um Estado independente e soberano”, disse Hashim Thaçi aos parlamentares, que aprovaram a declaração numa sessão plenária extraordinária convocada pelo chefe de Governo kosovar. “Esta declaração reflecte a vontade do povo”, continuou o primeiro-ministro.

Thaçi assegurou que o Kosovo terá uma “sociedade que respeita a dignidade humana” e que se compromete a confrontar “o doloroso legado do passado recente, num espírito de reconciliação e perdão”.

Todos os 109 deputados presentes na sessão plenária aprovaram a declaração de independência numa votação em que se abstiveram onze deputados de minorias étnicas, incluindo sérvios.

Nas ruas de Pristina, o tão aguardado anúncio da independência foi recebido por dezenas de milhares de pessoas, grande parte delas juntando-se na Avenida Madre Teresa. O vermelho da bandeira albanesa enche as ruas, mas também as bandeiras dos Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e NATO são empunhadas, em sinal de reconhecimento pelo apoio dado por os três países à independência da província do Sul da Sérvia e principais actores nos bombardeamentos aéreos de 1999 que forçaram as forças de Belgrado a abandonar o Kosovo.

Por outro lado, as autoridades de Belgrado, apoiadas pela Rússia, e os sérvios do Kosovo (que representam pouco mais que dez por cento da população) opõem-se à independência. Belgrado já afirmou que se recusará a aceitar qualquer proclamação de separação do Kosovo da Sérvia.

Comunidade internacional reage à declaração

Os Estados Unidos e vários países da União Europeia manifestaram nas últimas semanas a sua intenção de reconhecer rapidamente a independência do Kosovo após a sua proclamação pelo Parlamento kosovar.

Os Estados Unidos reagiram à declaração da independência do Kosovo com um apelo à calma. “Registamos o facto do Kosovo ter declaro a sua independência. Saudamos o claro empenho do Governo kosovar em proteger as minorias étnicas”, sustenta um comunicado do porta-voz do Departamento de Estados norte-americano, Sean McCormack.

O responsável indicou que os Estados Unidos e a União Europeia estão a avaliar a questão da independência kosovar. “Deveremos publicar um comunicado em breve” sobre a situação, indicou o porta-voz, sublinhando que, para já, Washington apela a todas as partes a “absterem-se de qualquer provocação”.

Em Londres, um porta-voz do gabinete da chefia da diplomacia britânica afirmou que a proclamação de independência é “um importante desenvolvimento que cria um novo contexto para o estatuto do Kosovo”. A mesma fonte remeteu para amanhã, em Bruxelas, uma declaração dos membros da União Europeia, que se vão reunir para analisar “o novo estatuto do Kosovo e os seus aspectos económicos e políticos”.

O ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Bernard Kouchner, que se encontra em visita a Israel, disse aos jornalistas que França deseja “boa sorte ao Kosovo”, considerando a sua separação da Sérvia “um sucesso da comunidade internacional e da Europa”.

Em Berlim, o ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, Frank-Walter Steinmeier, apelou, à semelhança dos Estados Unidos, “à calma e moderação”, após o anúncio da independência kosovar, salientando que a “manutenção da estabilidade na região é a principal prioridade”. Após uma conversa telefónica com o seu homólogo sérvio, Vuk Jeremic, e com o chefe da diplomacia eslovena, Dimitrij Rupel, cujo país presidente actualmente à União Europeia, Steinmeier afirmou, em comunicado, que os ministros “rejeitaram expressamente toda a forma de violência”.

Um responsável do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Itália indicou que o país “necessita de tempo para avaliar” com os seus parceiros europeus, em Bruxelas, a situação futura do Kosovo, apelando, no entanto, à “moderação” da Sérvia e do Kosovo nas suas relações.

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