Torne-se perito

Um conto de fadas de morte em nove actos

O êxito Malmequer, Bem-me-quer mistura comédia, história de encantar e drama criminal. As estreias de séries made in America não param em Portugal

a O que aconteceria se um conto de fadas se mesclasse com uma típica série procedural de resolução de crimes? Ou se Tim Burton e Jean-Pierre Jeunet se juntassem para fazer televisão? Junte-se a estes ingredientes a direcção artística impressionista de David Lazan em Beleza Americana e o resultado é Malmequer, Bem-me-quer (Pushing Daisies), uma série toda ela embrulhada numa tarte.O FoxLife, disponível para todos os assinantes de televisão por cabo e um dos dez mais vistos no cômputo geral das audiências de generalistas e cabo em Portugal, estreia hoje várias séries, das quais se destaca Malmequer, Bem-me-quer, criada por Bryan Fuller (Heróis) e realizada e co-produzida por Barry Sonnenfeld (Homens de Negro, Família Addams).
Visualmente, Malmequer, Bem-me-quer é diferente. E a narrativa também se destaca. A voz de Jim Dale, o narrador dos filmes de Harry Potter, é a primeira a ouvir-se no episódio de hoje, Pie-Lette. Ele conta como Ned (Lee Pace), o protagonista, descobriu na sua infância que tinha um inusitado dom - o seu toque ressuscita qualquer ser em que toque. Mas há um senão: passado um minuto, se essa pessoa continuar viva, alguém nas redondezas tem de morrer. Outro senão: se voltar a tocar nos que ressuscita, eles também morrem. Para sempre.
Ned torna-se introvertido, mas não esquece o amor pela vizinha do lado e as tartes que a sua mãe fazia. Anos mais tarde (o narrador dirá exactamente quantas horas, minutos e segundos depois), Ned só partilhou, e por acaso, o seu segredo com outra pessoa - um detective privado (Chi McBride), que descobre ali um filão. Ned, fabricante de tartes, passa a trabalhar com o detective, despertando da morte vítimas de crimes para que elas revelem, num minuto, quem as matou.
"Um crime por episódio"
À linha narrativa de fantasia que segue o dom de Ned, junta-se a típica trama de "um crime por episódio". Mas também há, claro, o amor. Ned não resiste a ressuscitar a sua paixão de infância, Chuck (Anna Friel), em quem nunca mais poderá tocar, e a empregada do Pie Hole, Olive (Kristin Chenoweth), está ardilosamente apaixonada por Ned. Depois há o tom dos diálogos, entre o conto infantil e o humor negro.
Mas a primeira coisa que salta à vista em Malmequer, Bem-me-quer são os cenários (muito vermelho, verde e amarelo) e a fotografia. Michael Weaver, responsável pela última, não fugiu às comparações e assumiu que a ideia era fazer algo entre Amélie e um filme (solarengo, dizemos nós) de Tim Burton. Quanto ao look do local das filmagens e trabalhado em pós-produção, foi baseado em livros de histórias.
A greve encurtou a série
Todos os domingos, às 21h, passa um episódio desta série de nove tomos. Malmequer, Bem-me-quer foi uma das mais bem recebidas entre as estreias na televisão americana no passado Outono. Mas a greve dos argumentistas norte-americanos só permitiu filmar nove episódios de uma temporada que deveria ter cerca de 20.
Os nove episódios foram transformados numa espécie de pequena temporada, à semelhança do que aconteceu com Heróis, que teve um final mais abrupto do que o planeado devido à paragem dos guionistas, que dura desde 5 de Novembro. Bryan Fuller retocou o nono episódio para o tornar um final de temporada, mas admitiu que se a greve acabasse em meados de Fevereiro, ainda conseguiria filmar mais alguns episódios. "Sabíamos que a greve vinha aí e por isso o último episódio que passou nos EUA foi um cliffhanger", disse Fuller ao Guardian no final de Janeiro.
No entanto, o criador da série já só pensa em fazer a segunda temporada. "O cenário mais provável é voltar e simplesmente começar uma segunda temporada, por isso teremos uma primeira temporada curta e voltaremos em força para uma segunda temporada completa". O primeiro episódio foi o mais visto de entre todas as séries em estreia no Outono de 2007 (13 milhões) e a temporada obteve uma média de 9,4 milhões de espectadores nos EUA.
Chuva de estreias
Tal como a rentrée televisiva de Setembro já não é o que era, miscigenada pelo cabo e pelas alterações da vida dos portugueses, a época de estreia de séries em Portugal também é volátil. Nas últimas semanas, com particular incidência neste mês de Fevereiro, os canais generalistas e de cabo estreiam que se fartam.
Amanhã, a TVI volta a apostar em Dr.House, uma das séries americanas mais bem sucedidas em Portugal tanto nos canais generalistas quanto no cabo (Fox). A quarta temporada vem com a bênção das audiências, que mostram que Dr. House foi a série norte-americana mais vista nos generalistas, mesmo que em repetição. De acordo com dados da Marktest, as repetições de Dr. House foram mais vistas (29,6 por cento de share) do que CSI: Miami (27,1), também em repetição na SIC e em dois horários - tarde de fim-de-semana e late night de dia útil.
Há uma semana, o primeiro canal da RTP estreou a terceira parte de Prison Break. Na passada sexta-feira, a RTP2 estreou a segunda temporada de Irmãos e Irmãs (que se estreia no Fox Life no dia 19). Na terça, o AXN, o segundo canal mais visto do cabo, estreou Life (NBC). A série, sobre um polícia que esteve preso doze anos por um crime que não cometeu e que regressa à liberdade e ao trabalho com uma nova abordagem zen, espalhou a cara do actor Damian Lewis pelo país, nos mupis das ruas em que o AXN (propriedade da Sony) colocou a promoção desta série.
O Fox Life também estreia hoje mais duas séries norte-americanas. Foi Assim Que Aconteceu (How I Met Your Mother) estreia-se logo a seguir a Malmequer, Bem-me-quer, às 21h50, com dois episódios. A série da CBS conta, em tom de comédia, a história de um casal com recurso a flashbacks. Depois, às 22h40, e também em dose dupla, estreia-se Amor à Medida (Lovespring International), que com base na comédia de improviso, se passa num serviço de encontros de luxo dirigido pelas pessoas menos indicadas para o cargo. A série do canal Lifetime tem apenas uma temporada.
Na semana que hoje começa, o AXN mostra o primeiro episódio de As Feiticeiras (dia 12, às 20h30), que marca o regresso à televisão de Shannen Doherty (quem se lembra da Brenda de Beverly Hills 90210?). No dia seguinte, o canal Mov, só para assinantes do pacote Funtastic Life, estreia Greek (ABC), sobre um jovem que decide que a entrada na universidade é uma boa altura para mudar de imagem e deixar de ser um "marrão" para se tornar membro de uma república de estudantes. Também na quarta e no MOV, a segunda temporada de Kyle XY estreia-se às 21h.
As séries norte-americanas dominam, fruto de uma época de produtividade, criatividade e, sobretudo, de exportação florescente. Neste momento há perto de 140 séries norte-americanas em exibição em Portugal, entre os canais generalistas e de cabo e fora canais de reposições como a RTP Memória. Da conta final foram depurados os cerca de dez títulos que agora estão em exibição simultânea no cabo e nos generalistas, como Prison Break, Irmãos e Irmãs, os CSI, A Vedeta ou Entre Vidas. A RTP tem em exibição quatro séries, o segundo canal público sete, a SIC seis e a TVI outras sete, já a contar com a estreia de Dr. House. No cabo, a SIC Radical tem sete séries americanas, a SIC Mulher mais duas, o canal Mov tem oito títulos, o AXN tem 16 (já com As Feiticeiras) e os Fox, que englobam o Fox, Fox Life, Fox Crime e FX), têm cerca de 80, de acordo com informações dadas ao P2. O People&Arts só tem no ar Providence. A RTP Açores tem cinco séries americanas recentes que não estão a passar noutros canais e a congénere madeirense tem outras quatro. J.A.C.

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