Torne-se perito

O assassino Dexter ganha nova vida nos canais generalistas

A série de James Manos Jr. e Michael Cuesta estreia hoje na RTP2 e em Fevereiro torna-se a primeira série do cabo a passar na íntegra num canal generalista nos Estados Unidos, devido à escassez de ficção criada pela greve dos argumentistas

a Alguns meses depois da estreia no cabo, Dexter chega ao público generalista português. Nos Estados Unidos natais da série sobre o serial-killer com código moral, passa-se mais ou menos a mesma coisa. Depois de duas temporadas da série no canal de cabo pago Showtime, eis que Michael C. Hall leva o seu Dexter Morgan para a televisão generalista, neste caso a estação irmã da Showtime, a CBS. Neste caso, a culpa não foi do mordomo. Foi do argumentista.A greve dos argumentistas norte-americanos, que entrou na sua 13ª semana, está a esvaziar lentamente o horário nobre da televisão americana, já se sabe. Com episódios em falta para grande parte das séries, e com blockbusters como Perdidos a começarem a sua quarta temporada esta quinta-feira, mas sem garantias de que haja mais episódios a juntar aos únicos oito que estão gravados, as televisões voltam-se para os reality-shows, para as repetições e para apostas arriscadas. Esta chama-se Dexter e estreia hoje às 22h40 na RTP2.
Baseada na personagem criada por Jeff Lindsay (nos livros Um Pesadelo Raiado de Negro, da Bertrand, e Dearly Devoted Dexter, sem edição portuguesa), Dexter segue o percurso de Dexter Morgan, um analista de salpicos de sangue da Polícia de Miami, que acontece ser também um assassino. Dexter tem a pulsão assassina desde muito cedo e, no entanto, segue um código moral que o impele a matar apenas outros assassinos, muitas vezes assassinos em série - não necessariamente os tradicionais, mas aqueles que vão desde os pedófilos que matam as suas vítimas para encobrir o seu crime aos profissionais de saúde que decidem praticar eutanásia nos seus doentes sem os consultar.
A série é elogiada pela crítica, sobretudo pelo seu tom neutralizador do choque perante o crime e, ao mesmo tempo, pela forma como Michael C. Hall, o David Fisher de Sete Palmos de Terra, cria empatia entre a sua personagem comicamente mórbida e sem sentimentos e os espectadores. Nomeado para o Globo de Ouro de Melhor Actor numa Série Dramática (não foi escolhido) e para o prémio do Screen Actors Guild para Actor numa Série Dramática (perdeu para James Gandolfini, de Os Sopranos), Michael C. Hall já recebeu vários prémios menos conhecidos pela sua interpretação de Dexter Morgan.
A comédia-drama negra, que estreou em Portugal no canal de cabo FX (só para clientes Funtastic Life da TV Cabo), tem vários planos narrativos: a vida nocturna e predatória de Dexter Morgan; a sua vida diurna, composta pelos crimes em que trabalha e as relações tensas com os colegas da polícia; e a vida familiar e afectiva, fingida mas desejada, com a namorada (Julie Benz), a irmã (Jennifer Carpenter) e o pai já falecido, Harry (em flashbacks).
Agora, inesperadamente, Dexter vai viver um novo teste. A CBS estreia dia 17 a primeira temporada da série, devido à escassez de conteúdos para as suas noites de domingo, e aí continuará Dexter durante 12 semanas. É a primeira vez que uma série do cabo pago se transfere na íntegra para um canal generalista nos EUA e a CBS está também a ponderar aproveitar Erva (duas temporadas já exibidas na RTP2) para a sua programação.
Um dos aspectos vitais desta transição é que Dexter, sendo a típica série do cabo pago, tem temas mais arriscados (sangue, sexo, violência e linguagem explícita) e terá de sofrer algumas alterações para passar nos critérios da autoridade federal para as comunicações para o público generalista. Julie Benz, que faz o papel de Rita Bennett, a namorada de Dexter Morgan que tem dois filhos, uma grande aversão a sexo e um ex-marido na prisão, considera que esta opção da CBS foi "uma grande surpresa". Em entrevista à revista TV Guide, Julie Benz diz não temer que a edição a que a série vai ser sujeita a ampute das componentes essenciais que ditaram o seu sucesso inicial. "A série é inerentemente boa. A escrita é tão fenomenal e ainda há o trabalho incrível do Michael C. Hall", alertou.
Questionada sobre se "um público mais alargado perceberá a série", o que também se aplica à segunda vida de exibição que a série tem agora em Portugal, Benz afirmou acreditar que sim. "É uma série tão fantástica e adoro a forma como nos desafia como público para pensar e questionar o nosso próprio código moral. Penso que é algo que as pessoas procuram no mundo de hoje."
Criada por Mark V. Olsen e Will Scheffer para a HBO, Big Love chegou a Portugal em DVD na Primavera de 2007 e só agora se estreia na televisão. O canal premium FX, só disponível para assinantes do pacote Funtastic Life, da TV Cabo, estreia hoje às 22h esta série sobre o universo da poligamia, que se cruza com a religião da Igreja de Jesus Cristo e dos Santos dos Últimos Dias, vulgo mórmon. Bill Henrickson (Bill Paxton) vive em Salt Lake City com as suas três mulheres (Jeanne Tripplehorn, Chloë Sevigny, Ginnifer Goodwin). Todas as famílias têm filhos, vivem na mesmo propriedade mas em três casas diferentes. Barb (Jeanne Tripplehorn) é a matriarca, com Nicki (Sevigny) e Margene (Goodwin) a viver mais ou menos sob as suas regras.
A história faz-se dos conflitos familiares, vezes três, mas também de temas não relacionados com a fé ou estilo de vida destas famílias polígamas - o vício das compras, o desejo de estabelecer contactos fora da família, o regresso de uma doméstica ao mercado de trabalho ou a infertilidade. Mas para além das questões mundanas, há a luta de Bill com Roman (Harry Dean Stanton), o pastor da comunidade mórmon ortodoxa em que nasceu e um dos seus sogros, que completa as várias camadas de narrativa.
Esta série, que lista Tom Hanks como produtor-executivo e que passará no Verão da tv americana, nunca foi saudada como aquela que repôs a HBO na velha forma (Os Sopranos, Sexo e a Cidade), mas aos primeiros 12 episódios seguiu-se nova temporada, já terminada nos Estados Unidos. J.A.C.

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