Mais de metade dos delegados dos partidos americanos vai hoje às urnas
Republicanos e democratas esperam poder terminar a maratona eleitoral com uma vitória naquele estado de quase 38 milhões de habitantes: para John McCain, o favorito dos conservadores, seria a consagração definitiva depois de quase ter sido eliminado da corrida; para Hillary Clinton, a confirmação de que ainda depende do establishment o sucesso nas eleições.
Mas na véspera da votação estas duas vitórias eram tudo menos certas. Segundo as últimas sondagens, as lideranças que Hillary Clinton e John McCain mantiveram durante as últimas semanas estavam seriamente ameaçadas, senão mesmo comprometidas - a candidata democrata, que chegou a ter uma vantagem de dois dígitos sobre Barack Obama, encontrava-se em situação de empate técnico; o senador republicano, de acordo com os números da Reuters-C-Span-Zogby, já estava oito pontos atrás de Mitt Romney.
Estrategicamente, Mitt Romney, que até agora percorreu os estados mais pequenos e conservadores, terminou o dia de ontem com mais um comício na Califórnia, enquanto John McCain se concentrou nos estados da Nova Inglaterra, onde o sistema adoptado pelo Partido Republicano atribui ao vencedor a totalidade dos delegados disponíveis em cada estado.
Os dois passaram a véspera da eleição exclusivamente a explicar por que são a melhor opção. Romney recordou a sua experiência como gestor de sucesso, insistindo que numa altura em que o país caminha para uma possível recessão não pode arriscar eleger um candidato que candidamente admite não ser muito versado nas questões da economia.
McCain, cada vez mais rodeado de figuras do partido, garantiu que a conjuntura económica vai melhorar e que a prioridade do futuro Presidente continuará a ser a protecção do país de ataques terroristas. Mas o seu principal argumento agora assenta na sua capacidade de atrair mais eleitores para as fileiras republicanas na eleição geral do que o seu adversário.
Com a retórica a inflamar-se, o desempate poderá estar nas mãos de Mike Huckabee, que não tem hipóteses de competir pelo primeiro lugar, mas pode fazer divergir para si os votos dos sectores mais conservadores ou dos grupos evangélicos. A imprensa americana especula que o principal objectivo do antigo governador do Arkansas para esta noite é projectar-se como o candidato ideal à vice-presidência.
No lado democrata, onde a competição está verdadeiramente ao rubro, nenhum dos candidatos se arriscou a regressar à Califórnia, mas a campanha prosseguiu naquele estado com a mesma intensidade. Os elogios a Hillary couberam ao seu marido, Bill, que depois de protagonizar (até à data) os momentos mais tensos da campanha, adoptou um novo tom mais optimista e conciliatório. O ex-Presidente não saiu da Califórnia e desta vez privilegiou o contacto com os eleitores hispânicos, que compõem 25 por cento do total e recordam com saudade a prosperidade económica vivida durante a Administração Clinton.
No passado domingo, Obama conseguira juntar milhares de apoiantes num comício na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, onde estiveram a falar em seu nome a sua mulher, Michelle, a estrela televisiva Oprah Winfrey, a filha do Presidente Kennedy Caroline e a sua prima Maria Shriver, casada com o governador Arnold Schwarzenegger (um apoiante de McCain), contrariando assim a opinião de que a sua candidatura não atrai o eleitorado feminino.
E ontem o senador do Illinois continuava a reunir multidões. Num comício no pavilhão de Meadowlands, no estado de New Jersey - considerado uma espécie de "catavento" nacional e onde o favoritismo de Hillary Clinton também parece ter-se evaporado -, o público que esperou horas ao frio para ver o candidato foi surpreendido por um novo porta-voz: o actor Robert de Niro.
Os últimos dias de campanha foram impressionantes para a candidatura de Barack Obama, que conseguiu anular a vantagem que Hillary Clinton exibia nas sondagens nacionais e alimentar o suspense quanto ao desfecho desta noite.
Os dois candidatos estão agora virtualmente empatados nas preferências de votos dos eleitores democratas: a sondagem de ontem do USA Today-Gallup dava a Hillary uma vantagem mínima (45 contra 44), a da CNN-Opinion Research Corporation já colocava Obama à frente (49 contra 46, mas com uma margem de erro de 4,5 por cento).
Numa paragem no Connecticut, Hillary Clinton voltou a emocionar-se publicamente, ao ouvir a apresentação de um dos seus antigos mentores na Universidade de Yale - um facto que imediatamente foi descrito como uma tentativa de reconquistar a simpatia dos eleitores, como antes sucedera no New Hampshire.
E assim, ao contrário do que aconteceu com o emocionante e surpreendente jogo da Superbowl (a final do campeonato de futebol americano), é muito provável que quando a Super-Duper-Tsunami Tuesday de hoje chegar ao fim, nenhuma equipa se atreva a sair à rua para festejar. A noite servirá para descansar e recuperar o fôlego para o prolongamento.