Regicídio: Cerimónia dos cem anos da morte do Rei D. Carlos envolta em polémica

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Em 2006, foi inaugurada uma placa alusiva ao regicídio no Terreiro do Paço Joana Camões/PÚBLICO (arquivo)

Cem anos depois do assassinato do Rei D. Carlos e do príncipe Luís Filipe, a 1 de Fevereiro de 1908, cerca de 500 pessoas juntaram-se hoje no Terreiro do Paço, em Lisboa, local da morte dos dois monarcas. Contudo, a polémica homenagem, que não contou com a presença do Exército, levou Duarte Pio, Duque de Bragança, a classificar o deputado do BE Fernando Rosas como um “talibã-carbonário”.

Apesar de inicialmente ter sido anunciada a participação das forças militares, o ministro da Defesa, Nuno Severiano Teixeira, não autorizou a sua presença. No entanto, o titular da pasta diz que apenas procurou distinguir a participação das Forças Armadas em manifestações de natureza institucional das que possam ter alguma leitura de carácter político.

Manifestando compreensão pela posição do ministro da Defesa, que quis evitar "polémicas em torno das Forças Armadas", Duarte Pio disse que foi um "equívoco" e atribuiu a polémica a um deputado [Fernando Rosas, do Bloco de Esquerda] que levantou a questão na Comissão Parlamentar de Defesa, classificando-o como "talibã-carbonário" (organização alegadamente envolvida na morte do monarca).

Apesar das divergências, entre bandeiras monárquicas azuis e brancas, o toque de silêncio foi dado por três trompetistas do Batalhão de Sapadores de Bombeiros de Lisboa e, depois de um minuto de silêncio, o padre José Quintela referiu-se a D. Carlos como "um rei nobre e valente" que foi morto por "balas de ódio, cegueira, injustiça e ressentimento".

Na cerimónia, onde a população gritou várias vezes “Viva o Rei!”, esteve também presente Duarte Pio, que considerou a evocação da morte de D. Carlos “um acto de justiça e de reconciliação do povo português com a sua História”. Em declarações recentes, o chefe da Casa Real Portuguesa disse ainda que se tem de “encarar a História como um passado de todos nós e evitar que sejam precisas revoluções para evoluir".

Casa Real pediu Dia de Luto Nacional

A Casa Real chegou mesmo a pedir que fosse declarado Dia de Luto Nacional e reuniu mais de quatro mil assinaturas para que o Parlamento o decretasse, mas o acto acabou por ficar no papel.


Na quinta-feira, cerca de vinte pessoas prestaram homenagem aos dois executores do regicídio no cemitério do Alto de São João, em Lisboa, que morreram também a 1 de Fevereiro. A iniciativa partiu da Associação Promotora do Livre Pensamento.

D. Carlos e o seu filho primogénito foram assassinados há precisamente cem anos quando regressavam de uma estada em Vila Viçosa. Os atentados foram executados por Manuel Buiça e Alfredo Costa, a quem são atribuídas ligações ao movimento secreto Carbonária.

A morte do rei, o primeiro do século XX e o penúltimo da monarquia portuguesa, foi visto como o derradeiro acontecimento para o derrube do regime monárquico, e a instauração da República, que acabou por acontecer dois anos depois, a 5 de Outubro de 1910.

Hoje, em Cascais, o Presidente da República, Cavaco Silva, que inaugurou uma estátua de D. Carlos, da autoria do escultor Luís Valadares, caracterizou o Rei como alguém que foi “mais do que um homem culto, um praticante empenhado da arte e da ciência. Foi um rei, um sábio, mas também um fazedor". Às 21h30, a Cinemateca exibirá um filme mudo, anónimo, que regista os funerais régios a 8 de Fevereiro de 1908, no começo de um ciclo intitulado “Regicídios”.

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