Aqueduto só será preservado com "empenhamento financeiro da sociedade"

Presidente da EPAL admite que a empresa não tem dinheiro para levar a cabo a reabilitação de que o monumento necessita e fala na possibilidade de criar uma fundação

a A Empresa Portuguesa das Águas Livres (EPAL) não tem dinheiro para levar a cabo a grande obra de reabilitação de que o Aqueduto das Águas Livres necessita, estimada em mais de dez milhões de euros. Em curso está uma empreitada destinada a reparar apenas as mazelas mais graves, como o desprendimento de pedaços de pedra do troço monumental sobre o Vale de Alcântara, em Lisboa, cuja queda põe em risco a segurança de pessoas e bens."A defesa do aqueduto não é de borla e implica o empenhamento financeiro da sociedade. Não nos podemos encostar só ao Estado", observa o presidente da empresa, João Fidalgo, que tenciona procurar "financiamento comunitário, público e privado" para conseguir levar a cabo "uma política sustentada de salvaguarda" do monumento nacional. Recorde-se que foi a população de Lisboa que custeou a construção do aqueduto, pagando impostos sobre vários produtos alimentares especialmente criados para financiar a obra.
Crostas negras, fissuras e pedras deslocadas são algumas das doenças de que sofre o troço mais emblemático do aqueduto, que chega a atingir uma altura de vinte andares no seu ponto mais elevado e cujas patologias foram alvo de um minucioso levantamento fotográfico. A colonização biológica por fungos, os graffiti, os depósitos calcários e as fissuras são outros problemas.
É por estas e por outras que o presidente do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar), Elísio Summavielle, remete para um futuro longínquo a sua candidatura a património mundial, numa altura em que os critérios de classificação "são cada vez mais exigentes e se destinam a premiar o mérito da gestão do objecto candidato".

Sete zonas de restauroO presidente da EPAL explica que há vários anos se põe a hipótese de criar uma fundação para gerir as actividades culturais e ambientais da empresa, nas quais se inscreve precisamente a preservação do aqueduto. E por que razão não foi isso ainda feito? "Não é fácil. Há questões jurídicas relacionadas com o objecto social da EPAL, que é a distribuição de água, questões económicas, questões de financiamento", responde João Fidalgo.
A empreitada em curso, a cargo da empresa de restauro Nova Conservação, limita-se a incidir sobre sete zonas localizadas. Como a altura dificulta a colocação de andaimes, algumas delas serão reparadas com recurso a uma espécie de gaiola especialmente construída para o efeito, fixada em calhas a colocar no monumento e dentro da qual estarão no máximo dois trabalhadores de cada vez. Está previsto que esta intervenção de emergência, que já começou no final do ano passado, fique pronta na Primavera, mas tudo vai depender das condições climatéricas: o vento que habitualmente se faz sentir no topo do aqueduto é condição suficiente para impedir o trabalho na gaiola.
Orçada em cerca de 150 mil euros, a obra está a ser acompanhada pelo Igespar, com o qual a EPAL firmou ontem um protocolo no sentido de haver sempre equipas deste organismo a colaborar na reabilitação do seu património. O acordo estabelece também uma "via verde" na apreciação dos projectos da EPAL por parte do Igespar, que passam, assim, a ter garantida uma tramitação mais célere do que até aqui.

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