Fortaleza de Sagres tentará recuperar a sua história de modernidade

Um dos monumentos do Algarve mais visitados pelos turistas é apenas um local
carregado de mitos. O Centro de Exposições está ao abandono

a A Fortaleza de Sagres, semiencerrada há dois anos, tornou-se um símbolo do desleixo a que está votado o património português. Finalmente existe a intenção de investir na recuperação do monumento, que recebe entre 350 mil e meio milhão de visitantes por ano e cobra um bilhete de 1,5 euros de entrada, metade do preço que deveria ser cobrado em circunstâncias normais.A ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, e o ministro da Economia, Manuel Pinho, anunciaram que 2008 deverá ser o ano em que Sagres volta a estar virado para o mundo. Numa primeira fase está previsto recuperar o Centro de Exposições, cuja cobertura desabou com a chuva. A intenção é recuperar a ideia inicial de criar ali um espaço multimédia, dedicado à história e ao mito. O programa Allgarve, que no Verão passado levou até à região um conjunto de eventos de nível internacional, vai ser reeditado, e Sagres está na rota traçada pelo Ministério da Economia, para atrair turistas com motivações culturais.
O turista que hoje chegue à Fortaleza depara-se, à entrada do monumento, com um aviso que lhe indica que o bilhete tem um desconto de 50 por cento, porque "algumas das valências do monumento não estão a funcionar nas perfeitas condições". Um temporal ocorrido em Novembro de 2005 pôs a descoberto as mazelas dos edifícios, que foram construídos sem ter em conta que aquele é um sítio agreste. Os metais da caixilharia estão corroídos, a água entra pelas paredes e os sistemas de electricidade e de ar condicionado não funcionam. Reabilitar os edifícios, centro de exposições, bar, restaurante e serviços de apoio deverá custar mais que todo o investimento inicial, que foi de 3,8 milhões de euros.
O presidente da Câmara de Vila do Bispo, Gilberto Viegas, reclama, há vários anos, que uma parte da receita arrecadada com as entradas no monumento ficasse no concelho e não fosse toda para a administração central. Recentemente, o presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDR), João Faria, no encerramento do Congresso do Algarve, defendeu que a verba de 1,5 a dois milhões de euros, proveniente da entrada na Fortaleza, deveria ser administrada por uma sociedade que "soubesse gerir bem o dinheiro", criando condições para a sua sustentabilidade.
Estado de degradação
Para oferecer, nesta altura, o monumento tem a beleza natural. Os novos edifícios que ali foram construídos, com um projecto da autoria de João Carreira, encontram-se encerrados, num acelerado e progressivo estado de degradação. As obras iniciaram-se em 1991, então com o ex-secretário de Estado da Cultura Pedro Santana Lopes, e a inauguração ocorreu em 12 de Julho de 1997, com Manuel Maria Carrilho à frente do Ministério da Cultura. Pelo meio rebentou a polémica. A população contestou as edificações, de linhas arquitectónicas modernas, num sítio carregado de mitos.
Por causa das críticas, uma parte do projecto - um muro de 260 metros, formado por um corredor de oito metros de altura e seis de largura - que representaria a Via dos Descobrimentos -, não se chegou a realizar. As muralhas da fortaleza, pintadas de branco, há 11 anos, também necessitam de uma nova intervenção.
O projecto a lançar em 2008 não se cinge apenas ao espaço do promontório. O presidente da Câmara de Lagos, Júlio Barroso, anunciou também um conjunto de iniciativas integradas num itinerário, a que chamou Terras do Infante, para projectar e dar dimensão universal à época em que "Portugal esteve na vanguarda do modernismo". O presidente da CCDR, João Faria, no mesmo sentido, defendeu, no Congresso do Algarve, que um novo investimento na reabilitação do património cultural de Sagres poderá representar um "salto" para o relançamento da imagem de Portugal no estrangeiro.
a Demolir ou não demolir mais de 1500 casas de férias clandestinas, construídas sobre o cordão dunar da ria Formosa? Apesar das muitas promessas de necessidade de as derrubar para "fazer cumprir a lei" e garantir a segurança de pessoas e bens, até agora o crime tem compensado. Em 2008, o assunto volta a estar na ordem do dia com um programa Polis específico, destinado a requalificar as zonas ribeirinhas e núcleos urbanos. Para isso, até 2013, o Algarve vai dispor de 80 milhões de euros, provenientes do Fundo de Coesão, geridos por uma sociedade de capitais públicos, com a participação do Estado e das autarquias.
O Plano de Ordenamento da Orla Costeira (POOC) só admite excepção para a manutenção das casas ilegais no caso de se tratar de primeira habitação. De acordo com o levantamento efectuado pelo Parque Natural da ria Formosa existem 1631 edifícios construídos ilegalmente em espaço lagunar e 1028 com licença válida. O que vai ou não ser demolido está dependente dos planos de ordenamento, que começam a ser desenvolvidos no próximo ano. A maior intervenção das zonas ribeirinhas desenvolve-se nas zonas de Faro e Olhão, mas está também prevista a criação de um Parque Ambiental, com a ligação do Ludo a Faro.
Quando o Governo, ciclicamente, fala em deitar abaixo as habitações clandestinas, pela necessidade de ordenar a orla costeira, os municípios contestam, alegando que o que é necessário são "planos de desenvolvimento". Até agora, ao longo da costa algarvia, mesmo no tempo do então ministro do Ambiente José Sócrates, as demolições não passaram de actos simbólicos. E não se sabe até que ponto os dinheiros comunitários vão mesmo ser utilizados para garantir os chamados "direitos adquiridos" em espaço público. I.R.

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