Benazir Bhutto assassinada durante comício político

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Bhutto já tinha sido alvo de um atentado, ao qual tinha sobrevivido, no passado dia 18 de Outubro Zahid Hussein/Reuters

Benazir Bhutto, ex-primeira-ministra paquistanesa e actual líder de um dos partidos da oposição, morreu hoje num ataque à bomba, durante um comício político na cidade de Rawalpindi. A morte ficou a dever-se a um tiro no pescoço, segundos antes de o atacante se imolar com explosivos. Pelo menos outras 16 pessoas morreram no ataque.

Bhutto, de 54 anos, não resistiu aos ferimentos e acabou por morrer no hospital de Rawalpindi. "Ela foi martirizada", afirmou um dos responsáveis partidários, Rehman Malik.

A morte de Benazir Bhutto já foi igualmente confirmada por um porta-voz do Ministério do Interior paquistanês, Javed Cheema.

O marido de Bhutto, Asif Ali Zardari, que tinha indicado aos media que a mulher tinha ficado gravemente ferida em consequência do ataque, especificou ao canal de televisão Ary-One, do Dubai, que ela foi atingida no pescoço, durante o ataque bombista.

A polícia local confirmou, horas depois do ataque, que Bhutto foi alvejada com um tiro no pescoço pelo bombista suicida, antes de este se ter feito explodir. “O homem disparou contra o carro de Bhutto. Ela encolheu-se e ele fez-se explodir”, afirmou o responsável de polícia Mohammad Shahid.

O chefe de Estado paquistanês, Pervez Musharraf, vai conduzir hoje à noite, em Islamabad, uma reunião de emergência destinada a debater os acontecimentos de hoje, anunciou a televisão estatal.

Logo após a notícia da morte de Bhutto, a polícia paquistanesa viu-se obrigada a dispersar a bastonadas e gás lacrimogénio mais de uma centena de apoiantes da ex-primeira-ministra, que se manifestavam em Peshawar. Os apoiantes bloquearam a artéria principal da cidade e incendiaram cartazes gritando palavras de ordem hostis ao Presidente.

Uma série de atentados a Bhutto

Este é apenas o último de uma série de atentados suicidas na história do Paquistão, que fizeram mais de 780 mortos só este ano. O mais mortífero visou uma manifestação do partido de Bhutto: a 18 de Outubro, dois suicidas mataram 139 pessoas numa gigantesca marcha de apoiantes que celebravam, em Carachi, o regresso da ex-primeira-ministra depois de seis anos de exílio. Bhutto conseguiu escapar ao atentado porque estava dentro de um camião blindado, à cabeça da marcha.

Desde então, as autoridades multiplicaram os alertas, garantindo ter informações “precisas” que permitiam pensar que os terroristas islamistas queriam atentar contra a sua vida.

Depois do atentado de 18 de Outubro, Bhutto acusou por várias vezes os “altos responsáveis” próximos do poder e membros dos serviços secretos de estarem na origem do ataque, sem nunca ter conseguido prová-lo.

No âmbito das eleições legislativas e provinciais marcadas para 8 de Janeiro, a ex-primeira-ministra, que dirigia o principal partido da oposição, o Partido do Povo Paquistanês (PPP), fazia campanha contra o Presidente Pervez Musharraf mas sobretudo contra os fundamentalistas muçulmanos. “Eliminar a ameaça islamista” do país era a sua principal promessa eleitoral.

Benazir Bhutto foi a primeira mulher da era moderna a liderar um país muçulmano. Na altura tinha apenas 35 anos. Foi duas vezes primeira-ministra da República Islâmica do Paquistão, de 1988 a 1990 e de 1993 a 1996. Das duas vezes foi demitida das suas funções por “corrupção” e “mau governo”. Bhutto fugiu em 1999 para Londres e Dubai para evitar ser detida. Regressou a 18 de Outubro de 2007 porque o Presidente Pervez Musharraf lhe concedeu uma amnistia, no âmbito de uma negociação entre os dois líderes para uma futura partilha do poder.

Mas apenas um mês depois de ter regressado do exílio, Bhutto tornou-se uma das principais vozes da oposição ao Presidente Musharraf. Quando o chefe de Estado decretou estado de emergência, invocando uma ameaça terrorista islamita, Bhutto voltou-lhe costas e acusou-o de procurar manter o poder por todos os meios.

Percurso de Benazir Bhutto

Nascida a 21 de Junho de 1953, filha do antigo primeiro-ministro Zulfikar Ali Bhutto, Benazir estudou nos Estados Unidos, em Harvard, e obteve um doutoramento em Filosofia, em Oxford.

Benazir regressou ao Paquistão em 1977 quando o seu pai foi afastado do poder pelo general Zia ul-Haq, antes de ser executado pelo regime militar deste último.

Detida várias vezes ou colocada em prisão domiciliária, Benazir reorganizou o Partido do Povo Paquistanês, fundado pelo seu pai.

Exilada em Janeiro de 1984 em Londres, Bhutto fez um regresso triunfal em 1986. De novo detida dias depois de uma manifestação ilegal contra o general Zia, Bhutto escapou a um atentado em Janeiro de 1987. Em Novembro de 1988, o PPP vencia as eleições e Bhutto tornou-se chefe de governo.

Destituída em Agosto de 1990 por corrupção e nepotismo, Bhutto compareceu perante os tribunais especiais de Setembro de 1990 a Maio de 1991 por abuso de poder e desvio de fundos públicos, acusações das quais será inocentada em 1994.

Derrotada nas eleições de Outubro de 1990, passou a fazer oposição. Em Outubro de 1993 subia novamente ao poder com a vitória do PPP, antes de ser afastada pelos mesmos motivos no final de 1996.

Benazir Bhutto casou em 1987 com Asif Ali Zardari e tinha três filhos.

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