"O Bull original" é treinador dos Utah Jazz há duas décadas

Nem a ausência de um título da NBA separa o clube de Salt Lake e Jerry Sloan, o técnico mais "resistente"
do desporto profissional dos EUA

a Na última segunda-feira, os Utah Jazz renovaram contrato com Jerry Sloan. Novamente. Desta vez, por apenas um ano, mas o acordo, se for cumprido até ao fim, significa que treinará a equipa pela 21.ª temporada consecutiva. As 20 épocas de Sloan são relevantes ao ponto de não haver na NBA nem em qualquer outra modalidade do competitivo mundo do desporto profissional norte-americano nenhum treinador há mais tempo continuamente na mesma equipa."Limito-me a encarar um ano de cada vez, um dia de cada vez, e isso foi o que sempre fiz. Há adjuntos na nossa equipa que são melhores do que eu. Penso que apenas tive sorte", afirmou Jerry Sloan no dia em que o novo acordo foi anunciado. Para muitos fãs dos Jazz, os mais novos, o clube simplesmente nunca teve outro treinador. Foi em Dezembro de 1988 que ele foi promovido de adjunto a principal. Até agora. Segundo dados fornecidos pela própria liga, já houve 196 mudanças de treinador na NBA desde que Sloan assumiu a função. Em 1988, ainda nem sequer existiam os Charlotte Bobcats, os Toronto Raptors, os Minnesota Timberwolves, os Orlando Magic e os Memphis Grizzlies.
O currículo de Sloan, de 65 anos, ajuda a perceber a longevidade da sua carreira em Salt Lake City. É o quarto técnico com mais vitórias na história da NBA (1135, contra 784 derrotas), o 12.º melhor em percentagem de vitórias (59,2%), levou os Jazz 16 vezes aos playoffs em 19 possíveis (de 1989 a 2003 e em 2007) e conquistou sete títulos de Divisão e dois de Conferência. Mas o currículo é também um argumento usado pelos seus críticos. Ou melhor, o que falta nele, o título da NBA, apesar de Sloan ter treinado durante 15 temporadas dois atletas, John Stockton e Karl Malone, que a NBA, em 1996, por altura do seu 50.º aniversário, integrou na lista dos 50 melhores de sempre até então.
Por aqui se percebe que também foi decisiva a persistência e a confiança do proprietário da equipa, o milionário Larry Miller, que, em 2006, apareceu nas notícias por ter proibido a exibição do Segredo de Brokeback Mountain, um filme sobre um romance homossexual, nos seus cinemas. "Estamos interessados em tê-lo aqui enquanto ele quiser", referiu Miller ao jornal Deseret Morning News.
O dono dos Jazz nem vacilou quando a equipa falhou os playoffs, de 2003 a 2006, e a verdade é que a reconstrução após a era Stockton/Malone já dá sinais positivos: na época passada, agora com Deron Williams e Carlos Boozer como estrelas, curiosamente nas mesmas posições que Stockton e Malone, o clube só foi eliminado na final da Conferência pela equipa que viria a sagrar-se campeã, os Spurs.
No caminho de Jordan
A Sloan, Stockton, o recordista de assistências e roubos de bola da NBA, e a Malone, o segundo com mais pontos na liga, aconteceu o mesmo que a Charles Barkley, Patrick Ewing, Reggie Miller e outros atletas talentosos: cruzarem-se no tempo com Michael Jordan. Nas duas vezes que Utah ultrapassou toda a concorrência no Oeste, em 1996/97 e 1997/98, foi depois derrotado na final pelos Chicago Bulls de Jordan e companhia (Pippen, Kukoc, Rodman e Ron Harper), ambas por 4-2.
É curioso que o que separou Sloan do sucesso total tenha sido um dos clubes que mais ama, os Bulls. Foi nos Jazz que encontrou sucesso como treinador, mas, enquanto jogador, brilhou nos Bulls, o mesmo clube que lhe deu a primeira oportunidade como treinador. Nessa altura, tinha uma alcunha, "O Bull original", porque foi o primeiro atleta escolhido pela equipa no draft. Foi também titular no primeiro jogo da história da equipa, em 1966, e o primeiro a ter o seu número retirado: nos Bulls, ninguém joga com o 4 por causa dele (depois, só Bob Love, Jordan e Pippen mereceram a mesma honra). Ao longo da carreira, teve médias de 14,0 pontos, 2,5 assistências e 7,4 ressaltos por jogo e foi duas vezes all-star.
Era um grande defensor, um base destemido e duro, que lutava por qualquer bola. Mostra a mesma personalidade no banco, não perdoando a falta de atitude nos seus jogadores. "Ninguém luta com o Jerry porque sabe que o preço a pagar seria muito alto. Talvez consigas sair vencedor, mas perderias um olho, um braço...", disse um dia Frank Layden, o homem que Sloan substituiu nos Jazz, em 1988.
Há um ano, a equipa de Salt Lake conseguiu uma boa vitória sobre uma das melhores equipas da liga, os Phoenix Suns, mas Sloan não teve problemas em criticar a postura do jovem base C. J. Miles. "Entrou um pouco macio. Não me interessa se ele tem 19 ou 30 anos. Se vai estar num campo na NBA, tem que estar preparado para ir atrás do que quer."
Nas férias, Sloan regressa a McLeansboro, no Illinois, onde nasceu. Aproveita para descansar e para se dedicar a um dos seus hobbies, coleccionar e restaurar tractores. Mas é em Salt Lake que passa a maior parte do tempo, ocupado com a sua grande paixão, o basquetebol. "Que mais vai ele fazer? Mais vale treinar-nos", sublinhou Carlos Boozer.

Sloan é o quarto técnico com
mais vitórias
na NBA (1135)
e o 12.º melhor em percentagem de vitórias (59,2%)

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