Gene explica por que é que leite materno potencia a inteligência

Variante genética comum ajuda a converter mais eficazmente o ácido gordo Omega 3 em nutrientes importantes para o desenvolvimento cerebral

a Um gene pode explicar por que é que as crianças amamentadas ao peito têm um quociente de inteligência (QI) mais elevado do que as criadas a biberão, defendem dois artigos científicos publicados hoje na revista Proceedings of the National Academy of Sciences. Começou-se a falar da relação entre o QI e a amamentação já há cerca de uma década - embora o tema tenha permanecido polémico, porque não foi identificado nenhum mecanismo biológico que pudesse explicar essa relação.
Mas agora, uma equipa do Reino Unido e outra da Nova Zelândia, que estudaram 3000 pessoas (as neozelandesas nasceram em 1972-73, e as britânicas em 1994-95) descobriram que quem tem uma determinada variante do gene FADS2 e bebeu o leite da mãe em bebé tem, em média, mais sete pontos na escala de QI.
Esta variante - ou grafia alternativa de um gene, como em português acontece com "ouro" ou "oiro"- é muito comum: 90 por cento das pessoas têm-na no seu património genético.
A variante C do gene FADS2 não está associada a nenhuma doença, mas os cientistas interessaram-se por ela porque este gene comanda a produção de uma enzima que ajuda a converter os ácidos gordos Omega 3 - que se encontram em alimentos como salmão e nozes, mas também no leite materno - em nutrientes importantes para o desenvolvimento do cérebro. Estes ácidos gordos acumulam-se no cérebro dos bebés, nos primeiros meses após o nascimento, sublinha um comunicado de imprensa da Universidade de Duke, nos EUA, onde trabalha um dos cientistas britânicos envolvidos nesta investigação.
Das 3000 pessoas cuja história foi avaliada, as que tinham essa variante genética comum e beberam o leite materno tinham um QI seis a sete pontos mais elevado do que as que não possuíam essa grafia genética. Para esses dez por cento da população, mesmo que tivessem sido amamentados pela mãe, não havia diferenças relativamente à inteligência.
"Os nossos dados dão substância à ideia de que o conteúdo nutricional do leite materno ajuda a explicar as diferenças no QI", diz Terrie Moffitt, que estava no Kings College de Londres quando fez esta investigação, mas agora se mudou para Duke. "Mas não é uma relação de tudo ou nada: depende muito das características genéticas de cada pessoa", acrescentou. "Não é "natureza" ou "ambiente": as provas de que o meio e a genética trabalham em conjunto permitem pôr o prego final no caixão dessa polémica", diz Moffitt.
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pontos mais na escala de QI é quanto têm as pessoas amamentadas pelo leite materno e que são possuidoras da variante G do gene FADS2, que intervém na utilização do ácido gordo Omega 3 pelo organismo

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