Último troço do Eixo Norte-Sul inaugurado sob críticas a atrasos na obra

Foto
O autarca de Lisboa considera que a obra pode descongestionar a Segunda Circular mas "a longo prazo" trazer mais trânsito para o interior da cidade Nuno Ferreira Santos/PÚBLICO (arquivo)

O último troço do Eixo Norte-Sul foi hoje inaugurado, 15 anos depois do início da construção, com críticas do primeiro-ministro, José Sócrates, à demora na conclusão dos trabalhos, uma situação que considerou "verdadeiramente chocante”. Apesar do ministro das Obras Públicas indicar que a obra irá beneficiar mais de dois milhões de pessoas, o presidente da Câmara de Lisboa receia que a “longo prazo” poderá ter um "efeito perverso" e trazer mais trânsito para o interior da cidade.

Com 4,3 quilómetros de extensão, o troço entre o Lumiar e a Circular Regional Interior de Lisboa (CRIL) deverá descongestionar os acessos do IC22, A1, A8 e Estrada Nacional 8, vias responsáveis pela entrada de cerca de 200 mil automóveis por dia na capital. Os 15 anos que passaram depois do início da obra, que deverá ainda desviar trânsito da Segunda Circular e contribuir para a redução em 0,8 por cento das emissões de dióxido de carbono em Lisboa, foram alvo de comentários por parte do Governo, com José Sócrates a considerar "verdadeiramente chocante, para não dizer escandaloso" a demora da construção do último troço do Eixo Norte-Sul.

O ministro das Obras Públicas, Mário Lino, também presente na inauguração do último troço, acrescentou, por sua vez, que apesar dos atrasos na obra, que disse ter sido adjudicada apenas em 2004, e "apesar de já dever estar concluída há algum tempo, [a construção] não teve derrapagens de custos significativos".

Pouco antes da inauguração, o ministro sublinhou à TSF que esta obra vai beneficiar mais de dois milhões de pessoas e tirar mais de cem mil veículos da Segunda Circular por dia e irá permitir uma "ligação mais rápida, mais cómoda e mais segura entre quem vem do Norte e quer ir para o Sul do país".

25 milhões de euros para tirar 22.500 viaturas da Segunda Circular

O presidente da Estradas de Portugal (EP), António Laranjo, ficou responsável pelos números e percentagens da obra. De acordo com o presidente da EP, o último troço representou 25 milhões de euros dos 73,6 milhões de euros que custou o total do Eixo Norte-Sul, a que acrescem os custos com expropriações, suportados pela Câmara de Lisboa.

A obra inaugurada hoje permite retirar 22.500 viaturas de Lisboa por dia na área da Segunda Circular a que acrescem 13.500 desviadas da zona Norte e Oeste. António Laranjo acrescentou que este desvio de trânsito vai permitir uma redução de emissão de dióxido de carbono de 122 mil toneladas por dia, o que representa a tirada de 8000 veículos de circulação por dia. Ao nível de impactos directos a inauguração deste troço representa ainda a diminuição de 10 mil quilómetros percorridos por dia.

Segundo o presidente da EP, outra das vantagens da conclusão do Eixo Norte-Sul incide na ligação à rede rodoviária nacional em Sacavém e Camarate, permitindo uma diminuição de dois quilómetros de percurso e um ganho de 15 minutos de tempo.

Os benefícios desta obra apontados pela EP foram recebidos com cautela pelo presidente da Câmara de Lisboa. Sublinhando a importância da conclusão do Eixo Norte-Sul, António Costa alertou, porém, para o possível "efeito perverso" que a obra poderá ter, uma vez que pode descongestionar a Segunda Circular mas "a longo prazo" trazer mais trânsito para o interior da cidade e provocar novos congestionamentos.

Como alternativa, o autarca defendeu a aposta pela Área Metropolitana de Lisboa numa rede de transportes públicos na área do urbano, metro e ferro-carril, em articulação entre autarquias e administração central, bem como a necessidade de a população criar redes de vizinhança, no sentido de que cada viatura não tenha apenas um ocupante. António Costa defendeu ainda a importância da criação da Autoridade Metropolitana de Transportes, sublinhando ter merecido o voto contra na última reunião da Junta Metropolitana de Lisboa.

Última etapa da CRIL adjudicada em Novembro

O ministro e o primeiro-ministro avançaram ainda que o último troço da CRIL - Buraca-Pontinha - vai ser adjudicado em Novembro. José Sócrates acrescentou que esta obra, a conclusão do IC16 e do IC30 e o alargamento do IC19 são as "quatro prioridades" do Governo nas acessibilidades à Área Metropolitana de Lisboa, a executar até 2010. O IC16 e IC30 estarão concluídos dentro de três anos, tal como a CRIL, enquanto o alargamento do IC19 estará terminado já no próximo ano, segundo Sócrates.

Mário Lino adiantou que definidas e com conclusão marcada estão as ligações Lisboa-Madrid e Lisboa-Porto ao comboio de alta velocidade (TGV), que ficarão concluídas em 2013.

Questionado sobre o aeroporto, Mário Lino disse que a apresentação de uma alternativa para a localização decidida desde 2000 obrigou o Governo a encomendar um estudo comparativo ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil que deve ser entregue ao Governo até "ao final deste ano".

Sugerir correcção
Comentar