Especialista em hidrobiologia contesta “explosão” de barragens no Nordeste

Rui Cortes prevê que as sete barragens previstas vão alterar a bacia do Douro
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Rui Cortes prevê que as sete barragens previstas vão alterar a bacia do Douro Paulo Ricca/PÚBLICO
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O professor catedrático de hidrobiologia na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Rui Cortes, criticou hoje a "explosão" de barragens no Nordeste, depois da decisão do Governo de abrir discussão pública, até Novembro, para a construção de dez novas barragens, seis das quais nas bacias do Tâmega e do Tua.

"Não se consegue compreender como é que surgem estas decisões de construção de grandes barragens antes dos planos de ordenamento das regiões hidrográficas. Devia ser ao contrário", disse Rui Cortes.

Está prevista, para as próximas semanas, a concessão da elaboração daqueles planos de ordenamento, pelo que "não faz sentido avançar com barragens que vão pôr em causa o ordenamento sustentável das regiões hidrográficas".

Padrozelos, Vidago, Daivões, Gouvães, Fridão, Foz-Tua, Pinhosão, Girabolhos, Alvito e Almourol foram as dez novas barragens apresentadas hoje pelo Governo no âmbito do plano nacional de barragens com elevado potencial hidroeléctrico.

Rui Cortes salienta alterações à bacia hidrográfica do rio Douro

Rui Cortes criticou o Governo por ter considerado "essencial" a construção da barragem do Baixo Sabor, contestada por todas as organizações ambientalistas por destruir o ecossistema do único rio selvagem da Europa, quando, afinal, tinha planos para construir outras barragens que "vão produzir uma quantidade de energia cinco ou seis vezes superior".

Para Rui Cortes, as sete barragens previstas para o Tâmega (cinco), Tua (uma) e Sabor (uma) "vão alterar substancialmente as características da bacia do Douro".

Entre os impactos negativos, o professor destacou a acumulação de poluição nas albufeiras, responsável pela libertação de metano, um dos principais gases com efeito estufa.

"O Tâmega está altamente poluído. A albufeira de Fridão vai aumentar ainda mais essa poluição", afirmou, destacando a necessidade de implementação de sistemas de controlo e tratamento das águas retidas nas albufeiras.

Professor defende melhoria da eficiência energética como alternativa

Em alternativa, Rui Cortes defendeu a adopção de medidas que melhorem a eficiência energética, área em que "Portugal apresenta os piores níveis da Europa".

"Não se está a fazer nada. Não há planos para procurar melhorar a eficiência energética. Os gastos de energia estão a aumentar em Portugal muito mais do que o PIB, quando noutros países estes dois crescimentos surgem associados".

Também o biólogo Jaime Prata, da associação ecologista Campo Aberto, criticou a opção pela produção de mais energia em vez do fomento da eficiência e poupança energéticas.

Portugal poderia reduzir em "cerca de um terço" o consumo de energia se aplicasse estratégias de eficiência em áreas como a construção de edifícios, indústria e agricultura, disse.

Jaime Prata acusou a EDP de "instrumentalização das populações" da zona do Baixo Sabor, frisando que a criação de emprego "é uma falácia" e a promessa de desenvolvimento do turismo é irreal.

"A construção de barragens é feita sobretudo por emigrantes", salientou o biólogo da Estação Litoral da Aguda, acrescentando que "as barragens, hoje em dia, operam com um funcionário e já há algumas sem nenhum, operadas à distância".

Jaime Prata sublinhou ainda que "o país está cheio de albufeiras desertas", existindo turistas apenas nalgumas situadas junto a grandes aglomerados populacionais, nomeadamente próximo de Lisboa e do Porto.

"As albufeiras no interior não atraem turistas. São sítios muito quentes no Verão e frios no Inverno. Actualmente, as pessoas preferem desportos, como a canoagem, que só podem ser praticados em rios sem barragens".

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